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Tributos cobrados de imóveis na beira do mar podem ser extintos
Cotidiano

Tributos cobrados de imóveis na beira do mar podem ser extintos

No Ceará, cerca de 15 mil imóveis estão localizados em terrenos de marinha. O valor total do tributo pago por eles em 2016 somou R$ 8 milhões. Fim do tributo é polêmico, com impactos ambientais, sociais, políticos e tributários
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Quase 15 mil imóveis no Ceará foram construídos em terrenos de marinha e acrescidos. Ou seja, estão a 33 metros da linha preamar média (média das marés máximas) ou se formaram a partir desta distância. São áreas consideradas da União e, por causa disso, renderam R$ 8 milhões em 2016, por meio do pagamento de taxas de uso e ocupação. Proposta de emenda à Constituição (PEC 39) propõe extinguir esses pagamentos.

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O Ministério do Planejamento já elabora texto-base para detalhar como isso será feito e deverá apresentá-lo para votação na Câmara dos Deputados.

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A medida é polêmica e envolve questões ambientais, sociais, políticas, tributárias. Discutida desde 2011, a PEC já foi modificada, criticada, apoiada. O documento substitutivo à proposta é de autoria do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS). Conforme a assessoria do parlamentar, houve reunião sobre o tema em junho com o presidente Michel Temer (PMDB), que sinalizou apoio à iniciativa. Em todo o País, existem pelo menos 479 mil imóveis dentro de áreas passíveis de pagamento.


“A primeira consequência imediata é a retirada desses bens do domínio da União, que equivale à perda estratégica para gerenciamento.

Terrenos de marinha têm importância enorme em qualquer País. Só quem vai ganhar é a iniciativa privada, o patrimônio público perderá”, analisa o procurador da República Alessander Sales. Ele pondera ainda que a demarcação de terrenos de marinha no Ceará foi feita aquém da realidade. “Muitos trechos ainda estão sendo demarcados, inclusive.

Cumbuco, Beach Park, Prainha, Fortaleza”, detalha Alessander.


O impacto no mercado imobiliário é destacado pelo procurador como forma de propiciar a posse privada das áreas mais valorizadas das cidades litorâneas. “Para que a iniciativa privada adquira um imóvel nessa área, construa um prédio, ela paga hoje 5% do valor de cada aquisição para a União. Se tirar esse custo para a construtora, o imóvel ficará mais barato? Não, porque é mercado. Mas o lucro para a construtora ficará enorme”, detalha Alessander Sales.


Demarcações


Para o engenheiro cartógrafo Obéde Pereira de Lima, consultor técnico científico em terrenos de marinha e que participou das audiências públicas sobre a PEC, a medida é necessária. Principalmente porque, conforme o especialista, as demarcações feitas pela Superintendência de Patrimônio da União (SPU), não são confiáveis. A SPU é responsável por gerir os imóveis que pertencem à União. O engenheiro considera ainda que a legislação atual fere o direito à propriedade


“Se fosse estabelecido uma média mesmo de preamar, os 33 metros deveriam ser contados a partir da média de preamar em luas cheia e nova (que são maiores) e em luas quarto crescente e quarto minguante (menores). As áreas de terreno de marinha estariam boa parte debaixo d’água”, explica Obéde.


Ele se opõe ao texto atual da PEC, que propõe a extinção apenas nas áreas urbanas. E acrescenta que, na opinião dele, a extinção não deverá trazer malefícios à população: “Os terrenos de marinha existem porque estão inscritos da lei. Mas de fato não existem mais, porque estão sob o mar”, defende.

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