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28,6% das crianças vivem em situação de extrema pobreza
Cotidiano

28,6% das crianças vivem em situação de extrema pobreza

O Estado é o segundo com o maior percentual de crianças vivendo com menos de um quarto de salário mínimo
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O Ceará tem 561.276 crianças de zero a 14 anos vivendo em situação de extrema pobreza — quando a renda familiar por pessoa é menor que um quarto de salário mínimo. Em termos percentuais, isso equivale a 28,6% das crianças cearenses. O número é maior que o percentual nordestino, que é de 26,3% (o maior entre as regiões brasileiras); ultrapassa o dobro da taxa do Brasil, que é de 13,5%; e coloca o Ceará como o segundo estado com pior desempenho, atrás somente do Maranhão (35,2%). Os dados, referentes a 2015, foram reunidos e divulgados pela Fundação Abrinq.


Os números apontam ainda que o Estado apresenta 1. 198. 254 crianças de zero a 14 anos em situação de pobreza — quando a renda familiar por pessoa é menor que metade de um salário mínimo. Ou seja, a cada dez crianças cearenses, seis são pobres.


No estudo, a Abrinq aponta que “a pobreza na infância é uma das maiores violações contra crianças e adolescentes, na medida em que afeta (o acesso aos) diferentes direitos”. O relatório está relacionado às metas assumidas pelo Brasil nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).


Para o economista e doutor em Sociologia João Bosco Feitosa dos Santos, a pobreza na infância representa para o indivíduo uma série de privações. “Envolve questões fisiológicas, porque a criança não vai ter os nutrientes necessários ao seu crescimento físico e intelectual. Por outro lado, a extrema pobreza se traduz em falta de acesso a saneamento básico, escola, saúde e às possibilidades próprias desse período da vida, como brincar. Em não havendo políticas públicas sociais, a tendência é que a pobreza perpasse gerações”, aponta.


As palavras de Bosco tomam forma na vida de Richele, 27. Morando na Praça do Ferreira, no Centro, com dois dos seis filhos, a jovem vê a própria história se repetir com a filha mais velha. A mulher deixou a escola, que a ensinou “a ler um pouco e só”, quando aos 14 anos engravidou. De lá pra cá, a vida foi degringolando e ela sustenta “como dá”, com a venda de pastilhas, os filhos que vão sendo criados pelas avós. Três deles estudam. Dois, gêmeos de quatro meses, nasceram quando a rua já era morada e permanecem com ela. A filha, uma moça de 13 anos, no início da adolescência, largou os estudos: Richele vai ser avó.


Também vendendo pastilhas para “ter o que dar de comer” para os cinco filhos, Elizângela Aragão, 28, divide a renda, cerca de R$ 1 mil, entre sete membros da família. Parte do dinheiro, R$ 280, vem do programa Bolsa Família e vai direto para pagar o aluguel da pequena casa em Caucaia. Ela faz questão de manter todos na escola, mesmo que tenha de levá-los no contra-turno para ajudá-la a vender pastilha. “Pra melhorar o futuro deles, só com estudo”, sentencia.

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