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Confrontos se espalham e se tornam mais violentos no terceiro dia
Cotidiano

Confrontos se espalham e se tornam mais violentos no terceiro dia

Feirantes usaram pedras, paus e até coquetel molotov nas manifestações realizadas ontem, no entorno da José Avelino, e que alcançaram a avenida Leste-Oeste. Em resposta, guardas municipais utilizaram balas de borracha
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O terceiro dia consecutivo de confronto dos manifestantes da feira da José Avelino com Guarda Municipal e Polícia Militar foi o mais violento. Os conflitos — antes restritos principalmente ao cruzamento com a avenida Alberto Nepomuceno, onde os feirantes estavam concentrados — ontem se espalharam e afetaram todo o entorno, convertido em praça de guerra.

[SAIBAMAIS] 

Os manifestantes estabeleceram ponto de bloqueio também na avenida Leste-Oeste. Confrontos ocorreram em dois pontos da Historiador Raimundo Girão e também na comunidade do Baixa Pau.

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Feirantes colocaram fogo em pneus e bloquearam as vias. Pedras foram atiradas contra a Guarda Municipal. Um grupo chegou a usar coquetel molotov. Três ônibus foram atacados na Leste-Oeste e passageiros ficaram no meio do confronto. Os guardas dispararam a chamada munição de impacto controlado, conhecida como balas de borracha. Usaram ainda bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral.

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Após a manhã de conflito, caixas de papelão foram levadas ao local em carroça de reciclagem. Foram usadas por grupo de cerca de 50 pessoas para criar novo bloqueio na Alberto Nepomuceno durante a tarde. Após negociação com integrantes do Batalhão de Choque, os feirantes concordaram em retirar o material e desobstruir a via.


Ônibus

Silvia Braz, presidente da Associação de Feirantes e Ambulantes do Ceará, disse que os ataques a ônibus não partiram dos trabalhadores.

 

Um dos feirantes, que estava em meio aos organizadores, relatou a versão de que o atentado teria sido iniciativa de traficantes. Eles estariam supostamente indignados com as operações, que chegaram à comunidade do Baixa Pau. Além de terem, segundo o relato, tomado as dores de moradores que trabalham na feira.


Porém, fonte ligada à Polícia negou haver indícios de envolvimento de grupos criminosos organizados. De acordo com essa fonte, existe a suspeita de que os ataques partiram de pessoas contratadas por empresários que usariam a feira como meio de negócio e se sentiriam prejudicados pela mudança.


O prefeito Roberto Cláudio classificou as ações como criminosas. “A gente assistiu ao sequestro de três ônibus que faziam linhas de ônibus regulares pelo Centro. Isso não é uma manifestação pacífica, da natureza do ambulante, do pai e da mãe de família que está atrás de trabalhar”, denunciou. (Colaborou Rômulo Costa)


Ponto de vista

Hermano Carvalho, coordenador do Laboratório de Gestão Inteligente de Cidades, da Uece


O que justifica a intervenção da Prefeitura na José Avelino parece ser, oficialmente, a criação de um “corredor de turismo e negócios”, que está incluído em Plano que foi elaborado por escritório de urbanismo, e que faz parte do planejamento estratégico Fortaleza 2040.


Há aqui uma confusão de conceitos entre Plano de Gestão (Fortaleza 2040) e Plano Diretor (Plano Urbano). A mudança estrutural que está sendo proposta para a rua contém indícios de um Plano Diretor, o qual, como manda a lei, precisa ser discutido em audiência pública, além de ser aprovado pela Câmara Municipal.


Portanto, além da falta de discussão mais aprofundada sobre os comércios populares — em respeito à enorme parcela da sociedade que se utiliza desses serviços — a criação do corredor planejado, precisa estar em consonância com o que dita a lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade).


Paraentender


2009. Cumprindo decisão judicial de 2008, Prefeitura retira feirantes da Praça da Sé. Parte ficou em galpões da José Avelino.

 

2011. Feira volta ao entorno da Catedral. Após operação, o comércio fica concentrado na rua José Avelino.

 

2012. Também por ordem judicial, Prefeitura inicia nova retirada da feira na José Avelino e na Alberto Nepomuceno.

 

2013. Sem o fim da feira, Prefeitura regula horário e locais de funcionamento.

 

2014. Sem fiscalização efetiva, feirantes passam a ocupar outras ruas no entorno da Catedral.

 

2016. Empresários cobram mudanças na área. Centro Dragão do Mar também se posiciona contra.

 

2017. Em fevereiro, RC anuncia intenção de transferir a feira.

 

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