Dos mais de oito mil casos notificados de chikungunya em Fortaleza neste ano, apenas 1,5% (129) é oriundo de hospitais particulares. Existe, portanto, uma situação de subnotificação da doença, o que dificulta a definição de estratégias de controle epidemiológico. Isso em um cenário de manejo clínico de notificação compulsória e que já não considera necessária a realização de exames de sangue para a confirmação dos casos.
[SAIBAMAIS]“A gente não espera que o médico que atenda dezenas de pessoas por dia pare para preencher uma ficha. Precisaria ter pessoas encarregadas só por isso”, diz o gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica de Fortaleza, Antônio Lima. Ele destaca a importância do engajamento dos hospitais privados na produção de informação. “Isso orienta, por exemplo, para onde os agentes de saúde vão, onde vai realizar o fumacê, onde há transmissão...”, reforça.
[FOTO2]As estatísticas, conforme o médico, apontam para uma média de 30% da população com acesso à rede privada. Em alguns bairros, esse percentual sobe para 60%. “Em 2016, a doença se concentrou muito das regionais I, III e IV. Na II e VI não teve muitos casos. Mas, agora, a nossa suposição é de que houve uma dispersão para essas áreas. Por isso é fundamental que a gente conheça melhor”, frisa Antônio Lima.
O especialista ressalta que vários motivos podem gerar a subnotificação, como falta de pessoal, ausência de um núcleo de epidemiologia e até falta de acesso à ficha de notificação. “A questão é que temos uma responsabilidade sanitária, e notificação compulsória é obrigação ambulatorial. E é uma doença nova”, alerta. Antônio Lima, entretanto, frisa: é prioritário trabalhar o controle do vetor.
Nos hospitais
Para o infectologista Roberto da Justa dialoga apontando outros aspectos que fazem com que haja subnotificação: “Pela formação dos profissionais, onde a vigilância sanitária não é trabalhada, e a própria dificuldade de fazer em uma situação de alta demanda”, considera.
O presidente da Associação dos Hospitais do Ceará (Ahece), Luiz Aramicy Pinto, informa que a entidade não recebeu comunicação sobre a subnotificação. “Eu imagino que seja mais um problema da equipe, que não se detém para preencher a ficha. Todas as emergências estão lotadas, chega de tudo e nossos hospitais não são muito grandes”.
O POVO solicitou aos dois maiores hospitais da Capital, Antônio Prudente e Hospital Regional da Unimed, os números de notificações de chikungunya de 2017. Ambos confirmaram que os casos são notificados e enviados ao Município. Porém, até o fechamento desta edição, esse total não foi informado. O número indicado no infográfico é do sistema da Prefeitura.
Saiba mais
Os dados sobre o total de casos notificados em Fortaleza fazem parte do Sistema de Monitoramento Diário de Agravos, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Os números, de acordo com o gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da SMS, Antônio Lima, foram atualizados ontem
Em todo o Ceará, conforme Boletim Epidemiológico da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), foram notificados 20.721 casos neste ano.
Durante todo o ano de 2016, foram 49.516 casos notificados, com 37 óbitos confirmados.
Ainda conforme o boletim da Sesa, em 2017, foram realizados 5.966 exames laboratoriais para diagnóstico da chikungunya no Ceará através do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen).
O POVO online
Em vídeo, O POVO explica a febre chikungunya