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O dia em que a Cidade virou de cabeça para baixo
Cotidiano

O dia em que a Cidade virou de cabeça para baixo

Na quarta-feira em que a Segurança de Fortaleza foi posta à prova, o cotidiano mudou. Os ônibus pararam de circular, as pessoas não tinham informações e o medo se manifestou de diferentes formas. O trânsito também sentiu os efeitos das mudanças na Cidade, com intensa movimentação de carros em vários pontos
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As pessoas viviam a rotina da hora do almoço quando a notícia de coletivos incendiados revirou tudo. Cinco terminais de integração de Fortaleza pararam, os ônibus não circulavam e ninguém sabia o porquê. Nos locais onde os ataques aconteceram, o cheiro de queimado se misturava a suposições sobre os crimes e ao medo de falar.

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“Estava cochilando e vi a fumaça. Com pouco tempo bateram desesperadamente no portão para avisar que tinha fogo”, contou um morador do bairro Edson Queiroz, que teve medo de se identificar. Ao lado da casa dele, um dos ônibus foi incendiado por dois homens que, encapuzados, teriam descido de uma moto e ateado fogo. “Foi o que disseram. Tentaram em outro ônibus, mas o motorista arrancou”, disse.

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Passado o susto, o operador Francisco Rodrigues avisava ao filho, por telefone, para ter cuidado. “Vim de táxi da Praia do Futuro, mas ele não tem como pagar. Melhor ficar onde está”, alertou. Ao longo do dia, milhares de pessoas viveram o medo de se locomover na Cidade, fosse por não saber se chegariam ao destino ou pelo que encontrariam no meio do caminho.

 

Peleja da volta para casa

“Ônibus parados por tempo indeterminado”, destacava o aviso na catraca do Terminal de Messejana. Todos os ônibus haviam sido recolhidos pelas empresas. A informação era repassada pelos fiscais também nos outros terminais. “O que diabos está acontecendo? Como tudo para de uma hora para outra?”, questionou a doméstica Miriam Pereira da Silva. Era por volta das 16 horas. Àquela altura, os comércios já previam fechar mais cedo, as universidades avisavam aos alunos que não haveria aula e os taxistas organizavam formas de transportar mais pessoas e ganhar mais dinheiro.

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No Papicu, Auricélia Pereira Rodrigues, 63, disse que dormiria no terminal, se preciso. “Não posso pagar R$ 20 de passagem num táxi. Cheguei aqui às 14 horas, e já vim a pé na Cidade 2000. O jeito vai ser dormir aqui”, projetava. R$ 20 era o preço que cada passageiro pagava para dividir a corrida pré-estabelecida de alguns taxistas.


Sem caronas ou outras opções, muitos passageiros viraram pedestres. Houve até quem perdesse o medo de andar por locais considerados perigosos. “Soube no colégio que não tinha ônibus circulando. Alguns amigos conseguiram carona, mas a gente não. Decidimos voltar a pé”, disse a estudante Marta Naiana Guilherme, 16. Ela caminhou da escola, no bairro Pici, até o Quintino Cunha. “Eu acho o trajeto perigoso e cansativo, mas não tinha outro jeito”, continuou.

 

Trânsito intenso

“Meu tio vem me buscar, já liguei para ele”, contou o estudante Wilson Mota, 19. Assim como ele, inúmeras pessoas precisaram pedir que parentes as buscassem onde estavam. Assim, o trânsito tranquilo de uma quarta-feira à noite também foi modificado. Grandes avenidas, já às 20 horas, ainda tinham movimento de horário de pico. Enquanto isso, as faixas de ônibus estavam vazias. “É isso: a Cidade toda virou de cabeça para baixo. Sem ônibus, tudo muda”, resumiu o motorista André Carvalho.

 

Por volta das 21 horas, poucos ônibus eram vistos circulando e a previsão era de que o retorno adentrasse a madrugada. “Amanhã (hoje) e durante a madrugada, a população já pode usar normalmente os ônibus. Vamos dar esse acompanhamento até termos certeza de que a situação esteja normalizada”, afirmou o titular da Secretaria da Segurança, André Costa. (Sara Oliveira, Rômulo Costa e Lígia Costa).

 

 


 

 


 

 


 

 

 

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