[SAIBAMAIS]
“Suba, suba! Não vai subir, não?!”, bradam agressivamente três homens, que aparecem no início do vídeo, enquanto Dandara, sentada ao chão, mal consegue se mover. Eles querem que ela suba num carro de mão. Ela chora. “Sobe logo! A ‘mundiça’ tá de calcinha e tudo”, zomba outro que filma.
Uma sequência de ofensas de gênero, chutes, tapas, golpes com madeira. A maioria mira a cabeça, já com muito sangue. Dandara tenta subir no carro de mão, sem conseguir. Até que os algozes a levantam e a jogam no carro de mão. Ela morreu no último dia 15 de fevereiro.
Pelo menos cinco jovens aparecem no vídeo com 1 minuto e 20 segundos de tortura, que circula na internet.
Para a pesquisadora de gênero e sexualidade Helena Vieira, histórias que envolvem agressões contra travestis têm múltiplos contextos. “Às vezes é violência puramente de ordem transfóbica. Mas a marca do ódio é grande. Sempre inclui tortura, espancamento, esquartejamento”, pontuou.
A investigação
Segundo Ronchi, o crime foi movido por homofobia. “Foi levantada outra hipótese, mas teve a homofobia. A causa e a continuidade das atitudes foi homofóbica”, afirma.
Após a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) realizar os primeiros levantamentos do crime, o caso foi encaminhado ao 32º DP, que esteve no local.
Bruno Ronchi afirma que o caso não estava sendo amplamente divulgado para não prejudicar as investigações e a viralização do vídeo é prejudicial, pois os autores têm acesso fácil ao material e fogem. Segundo o delegado, os envolvidos são adolescentes que já têm passagem pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) e são conhecidos por atos infracionais violentos no Grande Bom Jardim. (Luana Severo e Jéssika Sisnando)
Saiba mais
Moradores do Conjunto Ceará, onde Dandara morava, afirmavam revolta e tristeza ontem, nas redes sociais. Diziam que Dandara era figura carismática no bairro, frequentadora do Polo de Lazer. Outras pessoas relatavam, nas redes sociais, que o caso ganhava repercussão em outros estados. Um dos comentários dizia que, mesmo o crime acontecendo no dia 15 de fevereiro, só se teve conhecimento agora, após a divulgação do vídeo.
O coordenador da Diversidade Sexual de Fortaleza, Paulo Diógenes, publicou no Facebook que a pasta e o Centro de Referência LGBT Janaina Dutra entraram em contato com o advogado Hélio Leitão, que se disponibilizou para acompanhar a investigação, junto ao Ministério Público e à Polícia Civil.