No setor elétrico, foram 33 mortes de funcionários ou prestadores de serviço desde a privatização da Coelce, em 1999, até 2014. A sobrecarga de trabalho e problemas nos equipamentos de segurança causam a maioria dos acidentes, avalia Cezário Macedo, presidente do Sindicato dos Eletricitários do Ceará (Sindeletro). “O trabalhador submetido à cobrança por metas de ligações ou por medo de ser demitido tende a se expor mais ao perigo”, comenta. Além de orientar sobre prevenção de acidentes, o sindicato busca dar apoio e informações às vítimas ou familiares de pessoas atingidas.
Antigo contratado da Coelce, hoje Enel, Paulo afirma que o acidente teria sido evitado se ele não tivesse sido enviado para trabalhar sozinho. É que estar acompanhado de outro eletricista é um dos fatores de prevenção. “Hoje em dia é mais comum a pessoa dizer que não vai. Mas, no meu tempo, a gente tinha medo de perder o emprego e ia”. Morador de Itapipoca, Paulo aguarda processo em andamento no Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região.
Os casos de morte geralmente são judicializados, afirma Cezário Macedo. “Em acidentes, nem todos procuram o sindicato. Há quem não acredite na Justiça ou quem prefira não se indispor com a empresa”.
A demora no processo é fator de desestímulo para Raimundo Leite, morador de Baturité. Há cinco anos, ele entrou com ação indenizatória pela morte do filho. O eletricista Francisco Antônio Leite tinha 28 anos e sofreu choque enquanto trabalhava no José Walter, em 2010. O motivo teria sido uma descarga liberada quando um dos colegas ligou gerador por engano. Francisco foi retirado do poste sem vida. Para Raimundo, nenhum resultado do processo é capaz de trazer de volta o filho. “A gente cobra para que não fique por isso mesmo. Para que tenham mais cuidado e não deixem isso acontecer com o filho dos outros”, relata o pai.