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De braços abertos. Esse foi o gesto de Maria Lúcia de Almeida Braga, de 36 anos, ao ser resgatada, após 16 anos mantida em cárcere privado pela própria família. A mulher vivia num cômodo em uma residência no distrito de Sobradinho, em Uruburetama (a 127 quilômetros de Fortaleza). O titular da Delegacia Regional de Itapipoca, que responde pela área, Harley Filho, disse que arame farpado e quatro cadeados separavam Maria da zona rural de Uruburetama.
As investigações da Polícia Civil apontaram que, até os 20 anos, Maria levava uma vida “normal”, estudava e tinha amigos. Dessas amizades, surgiu o primeiro namorado, mas o fim do relacionamento fez com que ela apresentasse problemas psicológicos. Pouco tempo depois, a jovem se deu a oportunidade de um novo relacionamento, que a fez mãe.
[FOTO2]A família, sem aceitar que Maria se tornaria mãe solteira, encarcerou a jovem, já durante a gestação. Passados os nove meses, nasceu um menino, que foi entregue para outra família educar. Sem poder cuidar do próprio bebê, a mulher permaneceu em um quarto, em que a única luz vinha de uma janela fechada com cadeado. Demorou 16 anos até que alguém criasse coragem para denunciar o cárcere.
O delegado conta que soube da situação no dia 8 de março e, no dia seguinte, foi até o lugar. “Rompemos dois cadeados e um arame para ter acesso ao terreno. Na primeira casa havia um terceiro cadeado e, quando entramos no imóvel, no quarto que dava acesso à vítima, o último cadeado. A situação era deplorável. Havia uma rede e o odor de fezes e urina. Não havia banheiro. Despida, quando viu a equipe ela abriu os braços”, relatou Harley Filho.
Na casa, o delegado diz que Maria recebia duas alimentações por dia, sendo uma às 10 horas e outra por volta das 15 ou 16 horas. Ela tentava fugir nos poucos momentos em que alguém entrava no quarto para cuidar do banho ou limpar o local. Os pais, que inicialmente seriam os responsáveis por deixá-la trancada por tanto tempo, alegaram que os problemas psicológicos a fariam engravidar novamente e, por isso, resolveram privá-la da liberdade.
Com o avançar da idade, o casal ficou debilitado e o filho deles, João Almeida Braga, 48, o Joãozinho, como é conhecido, assumiu as finanças da família, mas não tirou a irmã do quarto escuro. Após o resgate, o delegado diz que ele fugiu, mas ao reaparecer, na última terça-feira, 28, foi preso e autuado por cárcere privado e maus-tratos.
Filho
Maria, quando foi encontrada, não falava e não conseguia se expressar. Foi internada e, em seguida, uma família conhecida por benfeitorias na Cidade a acolheu. O delegado Harley diz que, nestes 20 dias, Maria consegue se expressar por meio da escrita e vem desenvolvendo a fala aos poucos. (Jéssika Sisnando)