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Das 50 mortes em presídios cearenses em 2016, 10 foram elucidadas
Cotidiano

Das 50 mortes em presídios cearenses em 2016, 10 foram elucidadas

Nenhuma das 14 mortes ocorridas nas rebeliões de maio teve autoria identificada. Ceará foi o estado com mais presos mortos em 2016. No ano passado, governo foi condenado a pagar R$ 790 mil em indenizações a familiares
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O Ceará foi o estado no qual mais presos foram assassinados no ano de 2016 e quatro em cada cinco mortos não tiveram elucidados os crimes de que foram vítimas. Das 50 mortes registradas pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSDPS), 10 foram elucidadas e tiveram autoria identificada. Houve 31 pessoas indiciadas por homicídios ocorridos dentro das unidades prisionais administradas pela Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus) do Ceará.

[SAIBAMAIS]

No período mais crítico, quando morreram 14 detentos nas rebeliões de 22 e 23 de maio, nenhum dos assassinatos teve autoria identificada.


Diretora da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) no ano de 2016, a delegada Socorro Portela informou que mais de 200 detentos prestaram depoimento e familiares também foram ouvidos, mas as investigações ainda não foram encerradas.

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Portela acredita os detentos que foram mortos já estavam marcados por outros presos. A rebelião trouxe a oportunidade para os homicidas cometerem os crimes.


O relatório do Ministério Público do Ceará (MPCE) sobre as causas das rebeliões responsabiliza a Sejus pela falta de disciplina nas unidades. Os detentos eram mantidos livres nas vivências. A diretoria do Sindicato dos Agentes Penitenciários também foi apontada como responsável, pois promoveu greve durante a qual foi impedida a entrada das visitas, estopim para as mortes.


No início deste ano, a Sejus informou que, das nove unidades que estavam com os xadrezes abertos, três continuavam na mesma situação: Casas de Privação Provisória de Liberdade (CPPLs) 2, 3 e 4, no Complexo de Itaitinga. Nessas penitenciárias, as esposas dos detentos relatam que há divisão por facções criminosas, como Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).


Investigações

O índice de resolubilidade dos assassinatos de presos no Ceará é de 20%, não muito diferente daqueles que ocorrem fora dos presídios, de 23,4%.

 

A delegada Socorro Portela explica que a investigação de mortes em unidades prisionais é complexa, pois as testemunhas são os próprios detentos e muitas vezes eles optam por não denunciar os colegas, sobretudo quando há facções envolvidas.


Para o defensor público do Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios (NUAPP), Emerson Castelo Branco, alternativa para diminuição das mortes em presídios seria colocar os detentos de volta nos xadrezes. Porém, a solução esbarra na superlotação. Seria necessário acomodar em torno de 20 presos em uma cela, o que é impossível. “Imagine 300 presos em contato permanente todos os dias. Uma série de conflitos entre eles passa a existir e são essas guerras que ocasional essas chacinas e mortes”.

 

Saiba mais


Controle de informações

O Governo do Estado não possui balanço oficial sobre o valor de indenizações pagas a familiares de detentos nem sobre as condenações.

A Secretaria da Justiça e Cidadania informou que processos de indenização são acompanhados pela Procuradoria Geral do Estado (PGE). A PGE, que por sua vez, informou que apenas seria possível obter os valores das indenizações com os números dos respectivos processos.


O Tribunal de Justiça do Ceará informou que o cadastro, conforme a tabela processual do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é dividido em classes, assuntos e movimentações. O sistema lista indenizações por danos morais, de maneira geral. Portanto, não seria possível especificar as indenizações a familiares de presos.

 

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