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Setor da irrigação no Ceará pode sofrer mais restrições em 2017
Cotidiano

Setor da irrigação no Ceará pode sofrer mais restrições em 2017

As mudanças dependem das chuvas dos próximos meses, mas especialistas em recursos hídricos defendem que Ceará precisaria ter sido mais rígido antes. Hoje, volume acumulado nos reservatórios do Estado está em 6,1%
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Para evitar o esvaziamento dos açudes, a agropecuária pode ter restrições intensificadas em 2017, dependendo da quadra chuvosa no Ceará. No Vale do Jaguaribe, a diminuição da água dos irrigantes foi de 50% em 2015 e 75% em 2016, diz Francisco Teixeira, secretário dos Recursos Hídricos. Para este ano, ele avalia que a restrição pode ser maior, a ponto de o Estado não liberar água do Castanhão para a agricultura e tentar preservar o que restará nos açudes após a estação das chuvas, que vai até maio.

[SAIBAMAIS]

A reserva de água hoje é pouca e pode acabar. Os números assustam: em 2012, primeiro ano desta estiagem prolongada, fevereiro começava com o volume geral de 66% nos açudes. A reserva foi diminuindo a cada início de fevereiro: 44% em 2013, 29% em 2014, 19% em 2015 e 11% em 2016. Em 2017, temos volume de 6,1%.


Intensificar a integração das bacias com adutoras, medidas de racionamento, outro desenho para a rede de reservatórios. Ações que poderiam ter chegado nas últimas décadas e amenizariam o estado crítico atual, conforme apontam especialistas ouvidos pelo O POVO. Eles defendem que, nos últimos anos, a água liberada para a irrigação precisaria ter sido mais controlada, com restrições mais severas.


O Ceará é visto como uma contradição pelo engenheiro civil João Abner Guimarães, professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Por um lado, detém metade da capacidade de armazenar água no Nordeste, contando com o primeiro e o terceiro maiores açudes do País (Castanhão e Orós). Por outro, desgasta as reservas com o incentivo à irrigação. “Ano passado, o Ceará deveria ter suspendido qualquer água para irrigação”, diz.


Para cada quilo de melão produzido no Ceará para exportação são necessários pelo menos 500 litros de água, dimensiona o engenheiro Cássio Borges, que foi diretor no Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) até 1991. Ele, que ajudou a implantar o perímetro irrigado de Morada Nova, avalia que a água para o setor deveria ter sido restrita desde 2013 no Ceará, num processo gradativo.


Seca e irrigação

A irrigação no Ceará vem sofrendo restrições desde 2014, afirma o secretário Francisco Teixeira. No referido ano, as águas das bacias do Curu e do Acaraú não foram mais liberadas para irrigação. Segundo ele, o planejamento do Estado seguirá levando em conta os piores cenários para este ano. As ações se baseiam na avaliação das reservas em cada região e das recargas, ainda que pontuais. Ainda para Teixeira, a dificuldade na recuperação dos açudes deve permanecer em 2017.

 

O Ceará precisa de um plano de irrigação para períodos de seca, argumenta Hypérides Macedo, que foi secretário dos Recursos Hídricos na gestão de Tasso Jereissati. Além de controle maior da água que é utilizada pelos irrigantes, pequenos ou grandes produtores. Tentando comparar outorgas e volumes de açudes, ele analisa que a água do Ceará vem “desaparecendo”, com indícios de que o consumo da agropecuária é superior ao declarado ao Governo. Assim, ele aponta que é preciso fortalecer mecanismos de cadastro e fiscalização.

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