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Exoplanetologia

17:00 | 11/03/2017

 

Dermeval Carneiro

 

Caros amigos leitores da coluna Visões do Cosmos, na coluna de hoje abordaremos uma área da astrofísica que está chamando a atenção de toda a humanidade – a exoplanetologia.

 

Mas o que é EXOPLANETOLOGIA?

 

O tema é palpitante e mais uma vez ficou em pauta em publicações e meios de comunicação de todo o mundo após a Nasa anunciar a descoberta de mais um novo sistema solar, dessa vez próximo e parecido com o nosso.


Para explicar o que é exoplanetologia e as novas descobertas de forma simples e didática, contamos com a colaboração do nosso amigo e colega professor doutor Daniel Brito de Freitas, que recentemente passou a fazer parte e abrilhantar mais ainda o quadro de físicos da nossa gloriosa UFC. Com doutorado em astrofísica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Observatório Astrofísico de Arcetri (Florença, Itália), ele é pesquisador PQ2 do CNPq e é especialista em evolução estelar e exoplanetologia, trabalhando com estrelas frias e os mecanismos responsáveis pela formação de planetas em sistemas solares mais jovens que o nosso. Portanto, tivemos uma colaboração de primeira grandeza para a coluna deste domingo. Sobre o tema fiz alguns questionamentos ao doutor Daniel e suas respostas descrevo abaixo:


“A exoplanetologia é um novo campo da astrofísica em ascensão que busca e investiga planetas além do nosso sistema, mas dentro da nossa galáxia. A exoplanetologia deu o seu primeiro grande passo em 1995 com a descoberta do planeta 51 Pegasi b, orbitando a estrela 51 Pegasi localizado na constelação de Pegasus. 51 Peg b foi observado pelos astrofísicos Mychel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra na Suíça, usando o espectrômetro Eloide, do Observatório de Haute-Provence na França. Um dos fatos mais interessantes é que 51 Peg b é um Júpiter quente que gira em torno da estrela em uma órbita equivalente à que Mercúrio faz em relação ao nosso Sol. Agora, imaginem como seria nosso sistema solar se Júpiter ocupasse a orbita de Mercúrio! Loucura!


O segundo grande passo da exoplanetologia foi dado com o lançamento do satélite espacial francês CoRoT (sigla em inglês para Convecção, Rotação e Trânsito planetário), lançado em 2006 e com efetiva participação brasileira. Os astrofísicos detectam esses planetas fora do nosso sistema usando diferentes métodos. Um desses métodos, considerado campeão absoluto na caça aos exoplanetas, é o famoso trânsito planetário, com mais de 2.714 exemplares em detrimento dos 619 detectados por outro método — o da velocidade radial. Destes 2.714 planetas, o satélite espacial norte-americano Kepler, lançado em 2009, é responsável por uma cifra de 2.331. O satélite Kepler, assim como o CoRoT, aguarda pacientemente suas presas eclipsarem a estrela, fenômeno similar ao trânsito de Mercúrio ou Vênus (ver a primeira imagem).


No entanto, devido à grande distância, não somos capazes, mesmos com esses magníficos instrumentos, de detectar trânsitos no mesmo formato. O que nos resta é pescar os fótons (partículas de luz que saem das estrelas) que mapeiam eventuais mudanças no brilho das estrelas através dos sensores do CoRoT ou Kepler, como mostrado na figura. Como pode ser observado, a queda no brilho da estrela é um forte indicativo que a presa foi encontrada, obscurecendo o disco estelar como um pálido ponto escuro.


Caçar planetas parece ser muito promissor. Recentemente foi encontrado pelo satélite espacial Spitzer, da Nasa, o primeiro sistema de sete planetas tipo-Terra ao redor de uma pequena estrela fria (‘fria’ é uma força de expressão dos astrofísicos para dizer que a temperatura da estrela é menor que a do Sol). A esse sistema foi dado o nome de TRAPPIST-1. O sistema possui três dos sete planetas dentro da zona onde a água pode ser encontrada no estado líquido. Isso fascina porque estamos olhando para um sistema com característica semelhante ao nosso (ver a segunda imagem).


Comparando com a caça a borboletas exóticas, mesmo que seja no quintal do vizinho aqui na Terra, por mais bela que uma borboleta seja não faz sentido se ela é a única que encontramos de sua espécie. Neste cenário, o astrofísico da exoplanetologia é um tipo esquisito de lepidopterista (profissional que estuda e imacataloga borboletas e mariposas) que deseja apenas exemplares de planetas parecidos com a Terra — mesmo que, na maioria das vezes, eles encontrem borboletas bem diferentes. No fundo, a exoplanetologia é uma nova ciência que sonha em dividir nossa solitária vida no cosmos com outros habitantes que também colecionem borboletas como nós.”


Além dessa brilhante explicação sobre essa empolgante e fértil parte da astrofísica, o doutor Daniel nos deu uma grande notícia: a pós-graduação do curso de Física da UFC acrescentou a astrofísica estelar como uma nova área. Essa é uma iniciativa da mais alta importância.


Agora me lembro de Galileu... Será que em uma das noites em que apontava seu telescópio para o céu, ele teria pensado “um dia teremos telescópios voadores descobrindo outros mundos” ?

 

Bom para curtir: facebook.com/planetarioRA e www.seara.ufc.br

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