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Sobre a dor de demitir

17:00 | 28/01/2017
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Na cultura oriental, ao comprar um boneco Daruma (pronuncia darumá) você deve pintar um olho dele e fazer um pedido. Caso o desejo seja atendido, aí sim deve-se pintar o outro olho. Depois o boneco é queimado e substituído, dando início a novo ciclo. O presidente da Honda na América do Sul, Issao Mizoguchi, não pintou o segundo olho do daruma dele ao iniciar 2017. Queria ter melhorado as vendas. Ficou pra este ano. Primeiro executivo nascido fora do Japão a ocupar um cargo de diretoria mundial na companhia, e de origem modesta, ele diz por que as empresas demitem. Para explicar, usa a imagem de um barco. Em 2016, cerca de 1 mil funcionários tiveram de entrar em botes na empresa. Issao conversou com a Coluna em São Paulo.

VERTICAL S/A - Por que o senhor não pintou o olho do Daruma?
ISSAO MIZOGUCHI – Porque o sentido do Daruma é o seguinte: você faz um pedido, alguma realização na sua vida. Se acontecer, você pinta. Aí como este ano de 2016 foi um ano andando de lado, achei que não merecia pintar. Mas também um motivo para, no ano que vem, estarmos reunidos de novo e dessa vez para pintar. Tudo na vida é relatividade. Dentro do segmento de automóveis, a gente está um pouquinho melhor. Mas, se pensar na economia como um todo, e nós temos atuação em motocicleta também, o que ocorre hoje é que as classes sociais C, D e E são as mais sacrificadas. Infelizmente, como sempre. Então como lidamos com classe de B para A, no caso de automóvel, a crise, a recessão é retardada no efeito, mas não está imune. Em motocicleta já pegou há muito tempo. Em 2011 para 2012 já pegou.

VSA – E os planos de investimento para oi Brasil em 2017. O que muda?
ISSAO – Os planos para o Brasil nunca mudam por conta de algo, entre aspas, momentâneo. Porque esta recessão está demorando um pouco, mas o potencial do mercado brasileiro é uma coisa fantástica. Inclusive o que acho que está ocorrendo hoje: seja moto, automóvel. Não só para nós. Todas as categorias. Tudo quanto é produto. Existe uma demanda reprimida. As pessoas que queriam comprar estão deixando de comprar. Mas quando a situação permitir, eles vão comprar. Eu sempre penso. Na crise, a gente tem de se preparar para o futuro. No inverno, deve se preparar para a primavera. Os empresários não devem desanimar.

VSA – Vocês tiveram de demitir muito?
ISSAO – Na verdade é o seguinte. Eu não gosto de demissão. Ninguém gosta de demissão. Mas nós tivemos de ajustar o quadro. Eu já passei por uma coisa assim. Similar no passado quando eu era diretor de fábrica, na crise de 1991 para 1992. Eu usei o seguinte: imagine você tendo um barco em que cabem três mil pessoas. No mar calmo. E imagine de repente um mar agitado, tempestade. Aí o barco está balançando. Se ficarem os três mil a bordo, o barco afunda. E não tem mais jeito. Todo mundo morre. Agora se você pedir que uma parte dos passageiros desçam, o barco se salva, pelo menos. E depois você pode buscar as pessoas que desceram do barco. É uma decisão muito difícil para empresários, gestores de uma empresa.

VSA – Até porque a empresa investe nas pessoas...
ISSAO – Nossa, isso é incalculável. O custo que você teve para formar as pessoas, mas se você não fizer nada o barco afunda. E quando afunda não tem mais jeito, a empresa morreu. Mesmo que seja pela metade, a empresa sobrevive e depois resgata as pessoas. No passado, eu consegui fazer isso. Lá em Manaus, eu tive que enxugar a empresa pela metade. Em 1992 para 1993 começamos a melhorar e fui buscando todo mundo que tinha deixado no meio do oceano. Não existe 8 ou 80 no mundo. Você tem que preservar o futuro. O presente pode ser curto.

VSA – Quantos desceram do barco em 2016 na Honda?
ISSAO - Em torno de 1 mil, mais ou menos. Dói o coração. Este ano não pintei o Daruma.
Mantive caolho. O meu desejo era melhorar as vendas. Porque só quando melhora as vendas a gente consegue recuperar as pessoas que ficaram no meio do oceano. 

 

ELETRICIDADE
FB com energia eólica
O Farias Brito passou a utilizar energia produzida em um parque eólico da Prainha. Anualmente, será gerada uma média de 4.800.000 kWh. Segundo Tales de Sá Cavalcante, é o suficiente para atender todas as sedes da Organização. Equivale a 3.347 toneladas de CO2 a menos na atmosfera e a 20.916 árvores preservadas.

NO VIZINHO
Jorge Rebelo lança a pedra fundamental do Vila Galé Touros Hotel Resort – Conference & Spa no próximo sábado. Deverá ser o maior resort do Rio Grande do Norte. Investimento previsto de R$ 100 milhões. 

 

POSSE. O novo secretário do Planejamento e Gestão do Estado, Maia Júnior , deve tomar posse no próximo dia 2 de fevereiro. Desde a confirmação do nome, vem trabalhando todo dia. Mas sem caneta. 

 

CONCESSÕES


Fiasco do PT legitima agenda liberal

O fracasso da política econômica de Dilma, com o mergulho do Brasil em crise longa e profunda, não gera autocrítica entre os petistas. Longe disso. Mas fez emergir um agenda liberal como há muito não se via. Ainda com Dilma, o País buscou dinheiro privado para bancar aeroportos. No Ceará, o Governo Camilo listou quase uma dúzia de ativos para conceder e não se ouve nem resmungo. O fiasco do PT acaba por legitimar. 

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