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Rapinagem e rapineiros

2017-11-25 00:00:00


Graças à indignação de ambientalistas britânicos com o descumprimento de protocolos internacionais de proteção ao meio-ambiente, assumidos por seu governo, os brasileiros tomaram conhecimento, através do jornal The Guardian, de maracutaias envolvendo o Ministério do Comércio do Reino Unido e o Ministério das Minas e Energia, do governo Temer, contra interesses do povo brasileiro na área de petróleo e energia. Tudo feito em segredo para evitar reações. Londres despachou para o Brasil Greg Hands, ministro do Comércio, para comandar o lobby destinado a obter do governo Temer a eliminação de exigências legais brasileiras na área petrolífera, que prejudicavam as petroleiras de Sua Majestade, interessadas em abocanhar o pré-sal. O Planalto retirou a exigência que as obrigava a comprar equipamentos na indústria nacional (política de conteúdo nacional), bem como aboliu restrições ambientais estabelecidas pela legislação brasileira e dispensou as grandes multinacionais de um volume gigantesco de impostos resultantes da operação.


TROFÉU
 

Resultado: a rapinagem britânica custou ao Brasil mais de R$ 1 trilhão em isenção de impostos para a Shell, a BB e a Premier Oil, segundo The Guardian. Tudo em detrimento da Petrobras e do pré-sal. Um verdadeiro crime de lesa-pátria, praticado por entreguistas descarados. Enquanto os brasileiros têm cortes na saúde, na educação, na segurança e nos programas sociais, e o País volta a fazer parte do Mapa da Fome, o Planalto entrega, de mãos beijadas, mais de um trilhão de reais de futuras receitas para os bolsos das petroleiras internacionais. Como se chama quem atua contra os interesses de sua pátria? Se depender do governo Temer, de seu ministro das Minas e Energia, Paulo Pedrosa, e de gente como Pedro Parente, presidente da Petrobras, não será duvidoso que até o Cristo Redentor em breve esteja no Museu Britânico ao lado de outros antigos troféus de povos conquistados.
 

EXPOLIAÇÃO
 

Para o abastardamento do Brasil ser completo, o Banco Mundial sugeriu medidas adicionais: congelamento de salários do funcionalismo público, privatização das universidades públicas, redução, ao mínimo, de programas sociais, com cortes de abono salarial e salário família; integração de diversos programas sociais, como a aposentadoria rural, Benefício de Prestação Continuada (BCP) e o salário família em um único balcão de assistência, nos moldes do bolsa família; redução do número de professores em regiões do país onde há cada vez menos crianças em razão da mudança demográfica (envelhecimento da população). Sobretudo, não cobrar imposto de acordo com a fortuna, nem taxar herança. Aposentadoria integral, só após 40 anos contínuos de contribuição. Tá bom, ou querem mais?
 

CONCENTRAÇÃO
 

A propaganda enganosa sobre a retomada de empregos não explica que se trata de subempregos (além do emprego sazonal, como ocorre no final do ano). A reforma produz um tipo de modificação na relação de trabalho para pior. Quando se fala em aumento da formalização do trabalho, está-se apenas referindo ao fato de trazer para dentro da formalidade vínculos trabalhistas precários, sem modificar a situação concreta dos trabalhadores. Quem for demitido, volta ganhando salário menor e submetido a condições precárias de trabalho, tendo de aceitar a imposição patronal por falta de alternativa. Negociar diretamente com o patrão é como investir contra um ninho de metralhadoras armado apenas de baioneta. Pouquíssimos sindicatos disporão de artilharia para luta tão desigual.
 

ESCÂNDALO
 

Estamos falando de um país onde apenas seis pessoas: Jorge Paulo Lemann (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermirio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim) concentram, juntas, a mesma riqueza do conjunto dos 100 milhões mais pobres do país, ou seja, a metade da população brasileira (207,7 milhões), segundo o último relatório da Oxfam. Estima-se que se estes seis bilionários, gastassem um milhão de reais por dia, juntos, levariam 36 anos para esgotar o equivalente ao seu patrimônio. Não dá para aceitar uma imoralidade como essa. O levantamento também revelou que os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95% da população. Não dá. Quem tentou mexer um pouquinho nessa correlação absurda pagou caro: Getúlio Vargas, João Goulart, Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
 

META
 

Não conseguiremos resolver essas desigualdades profundas, se entregarmos essa tarefa exclusivamente ao mercado, como querem os fundamentalistas neoliberais. Nosso modelo econômico não deve ser o dos Estados Unidos, que construiu uma sociedade desigual, violenta e individualista, dominada por plutocratas. Nosso modelo deve ser o da Finlândia, da Dinamarca, da Suécia, que ordenam a economia com vistas a alcançar o Estado de Bem-Estar Social, com todos os cidadãos igualados no acesso aos bens e serviços básicos (todos gratuitos): hospital, ensino (do fundamental à universidade), segurança. Combinando economia de mercado com planejamento estatal e democracia participativa. A economia deve servir às pessoas e não o contrário. Lá, quanto mais rico, mais se paga imposto para permitir o bem-estar-geral. É essa que deve ser a meta dos setores democráticos e progressistas brasileiros, até que a humanidade, como um todo, possa dar o passo final em direção a uma sociedade sem exploradores e explorados, e em que reine plena liberdade. Não importa se levará séculos nessa construção.

Valdemar Menezes

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