PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

País enganado e à deriva

2017-03-04 17:00:00

Finda a folia, voltamos à trágica rotina de um País “à deriva”, classificação dada pelo comandante do Exército, general Villas Bôas. Provavelmente, seus serviços de informação não deixaram de lhe revelar a hipocrisia escondida sob a bandeira da anticorrupção, atrás da qual se abrigam os verdadeiros corruptos. Pior ainda: dos que estão comprometendo a soberania nacional e entregando, à toda velocidade, o patrimônio nacional, sobretudo o petróleo (junto com empresas estratégicas nacionais) a potências estrangeiras que querem reduzir o Brasil à condição de vassalo. Sem seu patrimônio nacional, o País não terá esteio para sustentar a própria soberania e será tratado como um ‘zé-ninguém’, a exemplo do México, cujas elites traíram os interesses de seu digno povo e hoje o país está inerme, tanto para enfrentar internamente o crime organizado, como para fazer frente aos que pisoteiam sua dignidade nacional. Quem muito se abaixa, deixa a traseira exposta – diz a sabedoria popular.

PATACOADA

As Forças Armadas conhecem o que significa sair do leito institucional democrático: os que sempre as instigaram, historicamente, a embarcar no caminho da exceção foram os mesmos que, depois, as abandonaram, quando já não lhes era mais conveniente, e atiraram todas as consequências dos desandamentos posteriores (como é inevitável quando se deixa o caminho da legalidade e da legitimidade) nos seus ombros, exclusivamente. Esses mesmos segmentos promoveram recentemente o golpe parlamentar-jurídico-midiático, através de um impeachment farsesco. Pois está provado que não houve crime de responsabilidade para justificar a deposição de uma governante eleita, cujo maior “crime” foi dizer não à chantagem de oportunistas. 


ELEIÇÕES JÁ
Cometido o golpe, sob o manto do faz-de-conta formal-jurídico, e aberto o caminho para o caos econômico e social (que se aproxima celeremente), é quase certo que tirarão o corpo fora, tão logo a desgraça se consumar por completo. A essa altura é possível que tentem seduzir de novo a caserna para, depois, atirar-lhe novamente às costas, de forma exclusiva, o sangue do povo brasileiro. Será que ninguém aprendeu nada? As Forças Armadas, até aqui, vêm demonstrando que aprenderam. Sua missão é assegurar a incolumidade da Constituição, a integridade do território e do patrimônio nacional, bem como a soberania do Estado brasileiro, não devendo opor obstáculos à reconstituição da legitimidade do poder, através do jogo limpo das urnas, o quanto antes, como voltou a pedir o editorial da Folha de S. Paulo, na última sexta-feira. O Brasil não pode continuar a ser desmontado e vendido, ainda mais por um governo não-eleito e repudiado.

CPI DA PREVIDÊNCIA
O senador Paulo Paim (PT/RS) conseguiu mais do que o número necessário de assinaturas para instalar a CPI da Previdência. É mais do que justo que seja esclarecido se a previdência social está deficitária – e quase falida -, como alega o governo, ou não. Os oponentes retrucam que não, baseando-se no fato de que a previdência pública é apenas um componente de um sistema mais amplo: a seguridade social. Esta abrange três áreas: Saúde, Assistência Social e Previdência Social, e seria superavitária em seu conjunto.

BURLA
Os custeios da Seguridade Social provêm de receitas obtidas a partir do lucro das empresas – Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), do Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), das loterias e da tributação sobre importações, além da folha de salários (contribuições de assalariados e patrões). No entanto, quando se foca a Previdência só se considera a folha salarial como única fonte de seu financiamento. O que vem dando ensejo à burla do “rombo na previdência”. Ora, é preciso esclarecer essa questão – ouvindo a sociedade, técnicos e autoridades públicas - antes de se pensar em reforma (botando o carro à frente dos bois).

ESTUPIDEZ
Os pontos mais polêmicos apresentados pela reforma proposta pela PEC 287/2016 dizem respeito à idade mínima para requerer a aposentadoria, que passará a ser de 65 anos para ambos os sexos; aos 49 anos ininterruptos de contribuição para obter o valor integral da aposentadoria, bem como, à desvinculação dos benefícios do salário mínimo. No primeiro caso, a crítica é não se levar em conta a expectativa de vida - que é bem diferenciada conforme a região em que se trabalha -; o tipo de atividade exercida e a disparidade dos condicionamentos físicos de gênero (homem e mulher). A exigência de 49 anos de contribuição ininterrupta não enxerga a extrema desigualdade de oportunidades e a dificuldade imensa de se conseguir e manter um emprego formalizado, no País. Além do que, seria necessário começar a trabalhar aos 16 anos de idade: época de estar frequentando a escola. O terceiro (desvinculação do salário mínimo) levaria à deglutição dos benefícios pela inflação. É uma aberração e uma falta de sensibilidade social estúpida.

Valdemar Menezes

TAGS