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Quatro livros para um carnaval em Paris
Foto de Socorro Acioli
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Escritora e jornalista com doutorado em estudos da literatura pela Universidade Federal Fluminense. Ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria de Literatura Infantil com o livro

Quatro livros para um carnaval em Paris


Para pessoas como eu, que nasceram sem o dom de gostar de Carnaval, folia de verdade é entrar em uma livraria e comprar quatro livros para curtir o feriado. Um para cada dia, como quem compra fantasias diferentes. Tenho consciência de que sou minoria. É fácil ver pelas redes sociais quase todo mundo pelas ruas, caprichando no colorido, exibindo fotos de felicidade e bradando em uníssono: “minha carne é de Carnaval/ meu coração é igual.” É a frase da moda.


Diante dessa verdade excludente, a melhor coisa que as minorias podem fazer é ajudar uns aos outros. Portanto, a coluna de hoje é dedicada a sugerir quatro livros para passar o Carnaval em Paris. Isso mesmo. Se vamos dedicar o feriado ao prazer de ler, que seja à francesa.


O primeiro passeio chama-se Quem matou Roland Barthes, de Laurent Binet. É um romance de ficção, ambientado em Paris, que recria a morte do teórico Rolando Barthes usando toda liberdade para inventar. Barthes foi atropelado no dia em que começaria a escrever seu primeiro romance, isso sempre me intrigou. Mas para Binet, a intriga é ainda maior. Ele defende no livro que, na verdade, o notável professor descobrira a Sétima Função da Linguagem, aquela capaz de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa. Na hora do atropelamento, ele levava documentos secretos sobre a descoberta, que foram roubados.


Minha segunda escolha é Para você não se perder no bairro, do Prêmio Nobel Patrick Modiano. É a história de um sujeito que está quieto no seu canto e recebe um telefonema estranho de alguém que diz ter encontrado sua agenda de telefones e marca um encontro para devolver. Seria algo rápido, se o rapaz não demonstrasse interesse em um dos telefones da caderneta, de alguém que nem o dono lembra. Esse nome está ligado a um inquérito policial e é daí que começa a aventura pelo passado do protagonista.


A terceira sugestão é a coisa mais linda: A elegância do ouriço, da Muriel Barbery. Foi lançado há alguns anos, êxito de vendas do mundo tudo, traduzido para várias línguas e adaptado para o cinema. É um romance narrado por duas vozes, Renée, de 54 anos, e Paloma, de 12 anos. As duas moram em um prédio de luxo em Paris, em condições totalmente diferentes. Renée é a zeladora, que luta para disfarçar a mulher culta e apaixonada por literatura que ela é. Paloma está deprimida, sente-se invisível e escreve sobre as suas observações a respeito da vida ao seu redor.


Para a chegada da Quarta-feira de Cinzas, fechamos com Paris é uma festa, do Ernest Hemingway, contando suas memórias na capital francesa. São tantas noitadas e bebidas que o leitor termina de ressaca e, ao mesmo tempo, apaixonado pelo passado artístico da Cidade Luz. As conversas e reflexões sobre a arte são inspiradoras.


A lista de livros sobre Paris ou ambientados por lá é infinita. Essa amostra de quatro exemplares é eclética e variada para não enjoar do cenário, se é que isso é possível, e da linguagem dos autores. Para quem não tem carne de Carnaval, esse passeio literário é uma excelente opção.


Foto do Socorro Acioli

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