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Ah, o amor...
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Ah, o amor...


Sentimento que move o mundo, o amor, nestes tempos velozes e malucos, tem experimentado transformações tremendas. Não é só a miríade de gêneros ou orientações sexuais que ditam suas novas regras; é também a relação do homem com as coisas, com aquilo que o cerca, o que constitui o motor de todas essas mudanças. Lembra do chamego no portão da casa da namorada com a tia solteirona e velha pastorando e pigarreando alto entre um e outro amasso mais ousado? Queria ver essa senhora ranzinza frente às diversas manifestações plebeias de afetividade pública que o poli-amor exibe às escâncaras na Praça da Gentilândia. A paquera na internet, a nova ética que conduz os relacionamentos, os joguinhos amorosos do cis e do trans, tem de um tudo nesse balaio. E ainda há gente que acredita no correio sentimental...


O aposentado japonês, perdido o fogo pela esposa, resolveu ter como companheira uma boneca de silicone, artefato este conhecido na Terra do Sol Nascente como “rabu doru”. “As mulheres japonesas têm o coração duro, são muito egoístas”, lamenta o tal senhor, “Sejam quais forem meus problemas, Eiko, ela, sempre estará aqui. Sou louco por ela e quero estar sempre com ela, que me enterrem com ela. Vou levá-la ao paraíso!”, extasia-se. Em vez de mero objeto sensual, o brinquedo é visto como alguém portador de uma alma, dividindo a cama com o casal. Contei o caso na mesa de bar e a vaia foi geral. Disse um amigo, às gargalhadas: “Isso me lembra o que houve com um conhecido meu que gosta dessas arrumações. O cara marcou de sair com uma boneca inflável, mas ela furou...”. É, nossa molecagem não conhece limites...

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Por falar neste importante componente da nossa cultura, a Associação dos Homens Mal Amados do Estado do Ceará, também conhecida popularmente como Associação dos Cornos do Ceará, comemora seus mais de 25 mil associados. Com carteirinha “válida em todo o Sistema Solar”, a qual oferece regalias aos afiliados, e até CNPJ, a instituição funciona na Rua Pedro Pereira, no Centro, defronte ao vetusto Solar Carvalho Mota. Seu presidente, proprietário de uma impressionante coleção de chifres, sente-se cansado e deseja ser substituído no cargo, após mais de 15 anos de labuta em prol dos alencarinos traídos. “O que não falta é candidato ao trono”, brinca ele, “O que tem de corno nesta cidade, meu chapa... Não é só no Zé Walter que tem, não”. E ainda filosofa: “Nesta vida, barão, só há duas certezas: a morte e o chifre”.


Fico nesses dois exemplos para mostrar com é vário esse universo comandado pelos desígnios da paixão. Lembremo-nos do mote da toada embalada pela voz de Milton Nascimento: “Toda maneira de amor vale a pena”. Quem era craque neste assunto, aliás, em prosa, verso e entrega, era o poeta Vinícius de Moraes. Quanta sabedoria no métier ele espalhou por aí em poema, letra, canção e vivência: “A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana”. Xeque-mate. Sem novidades no front: em vez de fazermos guerra, tomemos juízo e façamos amor. É isso aí, Vininha, tal qual o fecho do teu Soneto do Amor Total: “E de te amar assim, muito e amiúde, é que um dia em teu corpo de repente hei de morrer de amar mais do que pude”.


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