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Qual é a de hoje?
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Qual é a de hoje?


A Enéas Murta


Quem é adepto da rotina e dos modos de vida estáveis, como este escriba, deve estar zuruó com as mutações que este mundo velho sem porteira e este Ceará caboclo de Mãe Preta e Pai João têm conhecido nestes tempos mais recentes. O que é o dernier-cri num dia, no outro já está totalmente ultrapassado, e o povo gritando “cafona, catraieiro, demodé, sai pra lá, xangai”. Deve ser dura a lida de quem procura decifrar a essência mesma desses comportamentos contemporâneos, se é que ela existe. Guias de sobrevivência nesta selva virtual e afetada são lançados às pencas diariamente. Dizia Jung que as forças arquetípicas ou o zeitgeist (espírito de uma época) são os elementos que moldam o inconsciente coletivo num determinado momento histórico. Ou, como cantava Gilberto Gil, o eterno deus Mu dança...


E tome moda, turma boa. No ônibus, a mulher falava sem cerimônia: “Estou louca para pegar chikungunya. Já tive dengue e zika, mas dizem que essa agora é o bicho, deixa o cidadão mais arreado do que o moro (olha aí, revisor, as iniciais em minúsculas voltaram) na frente do Lula. Nada como uma sensação nova, mesmo ruim, não?”. Na farmácia, grita o cliente: “Tem algum lançamento de analgésico aí, meu chapa?”. “Diversos”, responde o balconista. “Oba, vou fazer um rodízio, sou viciado nisso!”, delicia-se o hipocondríaco. Indo da saúde à gastronomia, o lanche da hora é hamburguer vegano com vitamina de manga com cajá (égua!). Talvez pelo fato de que hoje, para o Brasil, a melhor saída é o aeroporto, o que tem de gente querendo morar em Portugal não está no gibi.

Ora, pois, pois, cachopa, arrebita, arrebita, arrebita...


Mas tem mais, muito mais. Além da febre de torcer Ferroviário, que fez muito torcedor do Fortaleza, em meio à tragédia que se abateu sobre o clube, pensar em virar a casaca (“não tem problema, continuarei tricolor, só que vitorioso”, rugiu um leãozinho bem acolá), vogas, algumas bem estranhas, surgem de todos os cantos, deixando-nos atônitos. Os gamers e a sua visão da existência como um jogo sem fim. A vida simples como o novo luxo. Os outsiders cult-bacaninhas e a teatralização do desvio social. O sujeito de mil faces e a fragmentação do ser: o zumbi urbano, o cara comum, o ermitão, o rapaz sensível, tudo ao mesmo tempo agora. A androginia e a disputa de gêneros. Não, não inventei nada disso.

Na internet, achei um curso de novas condutas humanas hodiernas, com suas tendências e microtendências. Um su.


Pois é, caro(a) leitor(a), tem neguinho e neguinha ganhando rios de dinheiro por aí ensinando as pessoas como se comportar face aos novos desafios da conjuntura social. Antigamente, aulas de etiqueta eram frequentadas por quem se interessava em se portar bem à mesa, entrar com a dama em um salão ou estabelecer uma conversação educada. Atualmente, com todo o respeito, o orifício é bem mais embaixo. Como os procederes mudam a cada instante, há que atualizar-se constantemente para exercer da melhor maneira possível a arte do convívio em sociedade, em que tudo se sabe. Sendo assim, nosso futuro é nos transformarmos em birutas de campo de aviação, volúveis aos desejos de Éolo? Teria então razão Verdi, “la donna é móbile qual piuma al vento”, condição esta agora expandida a todos os sexos? Lai vai, sei não...

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