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Salve geral
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Salve geral


Pois é, caro(a) leitor(a), em tempos de Baleia Azul e Pato Amarelo, a vida não está nada fácil. Quem pensava habitar em um Ceará Pacífico, acabou surpreendido pela ação dos Guardiões do Estado, que, como sabemos, não são as nossas altas autoridades. Seguimos presos fora das grades, sendo reféns de quem está por trás destas e tendo o nosso cotidiano frequentemente aviltado.

Estará o ônibus me aguardando no terminal? Se está, será incendiado no caminho? Se conseguir descer no ponto, serei assaltado na volta para casa? Se der certo chegar lá, encontrarei minha morada arrombada e saqueada? E assim, nesta rotina de incertezas e violências, vamos levando, adotando comportamentos inusitados: o dinheiro do ladrão na carteira, o resto da grana dentro da cueca (feito alguns políticos), o celular velho, por aí...


O tempo fechou de vez no meio da semana passada. Não teve ação midiática do tipo “arenga de Facebook” que desse jeito. Vinte e seis ônibus queimados, quatro delegacias atacadas, duas agências bancárias atingidas por disparos, veículos públicos destruídos. O terror tocado em alto e bom som de dentro dos presídios, reverberando e sendo ampliado pela boataria correndo solta nas redes sociais.

Surgiu até mensagem do vice-prefeito, logo desmentida por falsa, pedindo aos moradores da Loura para que entendessem o que estava acontecendo e ficassem no recesso do lar. Nesta hora, os fatos alternativos da pós-verdade fazem os cidadãos ficarem mais perdidos e desamparados do que cachorro caído de mudança de pobre. E tome sigla criminosa nos áudios bandidos circulando céleres: PCC, CV, GDE, FDN, ADA, EMC. PQP...


Enquanto a população se escondia e evitava sair à rua, entregando a cidade cheia de monturos aos intrépidos mosquitos transmissores de dengue, zika e chicungunya, a bandidagem comemorava mais uma vitória sobre as forças policiais. Ao passo em que estouravam rojões na Rosalina, na Babilônia e no Barracal do Itapery, entre outros locais dominados pelas facções celeradas, pegava fogo o bate-boca entre o governador e um certo deputado estadual, conhecido pelo gosto de aproveitar oportunidades do gênero para jogar gasolina na fogueira. Era “frouxo” para lá e “moleque” para cá, num tristíssimo espetáculo em que se evidenciou o despreparo, a falta de planejamento tático e o oportunismo mais deslavado. Em suas celas, os líderes do raid certamente comemoraram o sucesso da operação e riram muito da comédia política.


Na noite da última quinta-feira, no Joaquim Távora, sentado à mesa de um bar, um grupo de pessoas resistia bravamente ao toque de recolher imposto pela guerrilha urbana. “E se vierem bater aqui, o que a gente fará?”, perguntou uma senhora ao marido. “Ora, o que mais tem por aqui é garrafa de cachaça. A gente faz coquetéis molotov e joga neles. Vamos combater o fogo com fogo!”, respondeu o consorte, animado por algumas doses de uísque além daquelas que Humphrey Bogart recomendava como ok à humanidade. Um violão afinado soava, vozes pastosas entoavam belas canções do passado e os clientes pareciam não querer sair dali. Súbito, uma microfonia qual um estrondo, todo mundo se abaixou para depois cair na risada. “O que mais pode acontecer?”, disse a mulher. “O Ferrim ser campeão!”, falou o homem, num soluço.

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