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Bar, doce bar
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Bar, doce bar


À turma boa do Gentilândia Bar


Dizia Aírton Monte, eterno ocupante deste nicho, que Fortaleza é uma ilha rodeada de bares por todos os lados. Não sem razão, o poeta e letrista Abel Silva abre as asas partidas e diz que o bar é o descanso do lar. Por sua vez, Maysa, a dona dos olhos que mais pareciam dois oceanos não pacíficos, na visão de Manuel Bandeira, pregava que um bar é como um templo: entrou, tem que beber. Poderia passar o restante da crônica só fazendo citações acerca da relevância desse estabelecimento tão simpático para o gênero humano. Dia desses, fiz as contas: comecei na luta aos 15, bebi como amador até os 27 e daí, quando fui incorporado à mobília do Bar do Aírton, tornei-me diarista, o que me dá grande prazer. Fiz amizades para a vida inteira nas mesas e balcões por aí. Ah, estes dias coloniais nos inspiram, qual um saco de cajá-umbu...


Segunda-feira é sabidamente o dia dos profissionais. Com os diletantes curando a brutal ressaca do fim de semana, os bares ficam à mercê daqueles que os cultuam como lugares sagrados. Vespertino, inicio minhas atividades na Embaixada da Cachaça, onde o cliente mais besta faz dum coco um relógio. A novidade do bar agora, talvez para salvar o combalido futebol cearense, é servir doses de cachaça a cada gol dos nossos times, a cujos jogos assistimos na TV, torcendo, claro, por acachapantes goleadas. Terça-feira é quando vamos beber em zona de conflito. Calma, meu povo: refiro-me ao Faixa de Gaza, agradável boteco do Joaquim Távora, onde a noite passa sem que se sinta. Na quarta-feira, o lance é ir ao Bar do Helano e encontrar com o dono dando uma de Roberto Carlos, Waldick Soriano e Cauby Peixoto. É mole?


Na quinta-feira, a semana passa do ponto e começa a descer a ladeira. É hora de atracar o boêmio barco no Alpendre, bar de fé e de truz. Fatinha, Francisca e Evânia, as panteras do birinaite, lá nos aguardam com o carinho de sempre. Na sexta-feira começa o engarrafamento, com os botequins disputando espaço nos nossos corações e mentes. Dia de curtir a roda de choro no Serpentina, com suas primas e bordões entre umas e outras. O sábado é sempre uma promessa de felicidade, difícil, entretanto, de saber qual é: a feijoada da Zena ou a panelada do Fabiano? O carneiro do Nem no Mercado São Sebastião ou o fígado acebolado do V Bar? O samba do Arlindo ou o repasto do Le Marché? As dúvidas cruéis se avolumam e nos confundem enquanto biritamos ao pé do alguidar de frutas da Embaixada (repeteco). Wolverine, tu nem incha...


E as incertezas, continuam no domingo? Flórida ou Raimundo do Queijo? Para mim, não há pé de cachimbo sem a turma galhofeira da Travessa Crato, logo de manhãzinha. O Hermínio, o Deinha e a Maria são flores de pessoas e muito bem me atendem no velho bar da Dom Joaquim. Mais tarde, é cuidar de atualizar a cultura musical nas soirées do Cantinho do Frango. Ah, sim: de segunda a sexta, ao meio-dia, para abrir o apetite, tomo as três regulamentares no Bar do Nonato, um dos mais antigos desta Loura. E ainda tem o GB para encaixar... Tudo isso em meio a uma rotina de trabalho de 12 horas diárias. Fala aí, Mário Quintana: “Aquele homem ali no balcão nem desconfia que se acha conosco desde o início das eras. Pensa que está somente afogando problemas dele. Ele está é bebendo a milenar inquietação do mundo!”.

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