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Lembranças de Momo
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Lembranças de Momo


Escrevo na manhã desta Quarta-Feira de Cinzas, ainda sob os eflúvios do magnífico carnaval havido na Loura neste 2017. Realmente, este ano não foi igual àquele que passou; foi muito melhor, trazendo, aliás, algumas novidades já plenamente incorporadas à folia. A tarefa da cultura é manter-se sempre se renovando, já dizia Confúcio pelos Cantos de Pound. Ou como dizia o Paulinho da Viola, adivinhando o rumo dos ventos: “o jeito é criar um outro samba sem rasgar a velha fantasia”. Enquanto usamos quilômetros de fita adesiva e potes de demaquilante para tirar o ultra-renitente glitter do corpo, da alma e das coisas que nos cercam, façamos um rápido inventário dessas invenções, tão características da criatividade popular. “Ô povinho pra gostar de inventar moda...”, diria minha saudosa mãe, que abominava o carnaval.


Comecemos pelos novos blocos carnavalescos. Talvez inspirados no lema punk “do it yourself” (“faça você mesmo”), os grupos de amigos não esperam mais por ninguém e cuidam de criar sua própria diversão, espalhando a festa por toda a cidade nos quatro dias de Momo. Usamos e abusamos de jogar serpentina do alpendre daquele bar nos Belquió que iam passando, fartando-nos de beijos no Raimundo dos Queijos e dizendo galhofeiramente “é só isso mesmo”. Se a Lagarta de Fogo não mais circulou sob as mangueiras benficanas, o Oroboro e o Bode Ioiô, acompanhado da lânguida heroína de Alencar, botaram para quebrar na Aldeota e na Praia de Iracema. Fornida à base de Vinho São Braz e pratinho-bomba, foi-se a carcaça pelas ruas e mercados, pirando com as gatas, a Mocinha e os bichos de urêia.

 

Primeiramente, de peito aberto, de borboleta psicodélica ou simelano na lama, teve gente que caiu no poço da pagodeira e de lá só saiu graças à irresistível promoção de cerveja. Os coxinhas, sempre disfarçados, ouviram inúmeras críticas bem-humoradas aos seus ídolos golpistas, a começar pelo seu chefe, multicitado pelas línguas ácidas, entre um chupão e outro. Aliás, a Rede Globo jogou gasolina na fogueira, mostrando o “Fora, Temer” pelos carnavais do País. Ratos dando o pira da barca furada? Imaginem como vai ser a malhação de Judas na Semana Santa. Em ampla minoria, os héteros tiveram que reinventar o juízo para entender a nova vida. Muitos indignados com a cabeleira do Zezé, a Maria Sapatão e a Nêga Maluca. “Mau humor é o ó, amore, tanto faz a raça quanto a orientação sexual”, disse-me o ser ao lado, numa rabissaca.


Agora, falando sério: é preciso apoiar o carnaval da Domingos Olímpio, dar suporte a quem carece e merece, Az de Ouro, Mamão, Acaracuzinho, pois senão, calunga, o Doido é Tu. Mais, agora sendo chato: urge discutir financiamento, oportunidades, a preparação dos bairros para o pré, o durante e o pós, entre outras questões, já que a coisa engrenou de vez e tem muito papangu de olho, doido para se dar bem. É o tal negócio: ninguém apostava um tostão no babado, o esforço de muitos abnegados mostrou o caminho certo e hoje o que tem de esperto à espreita não está no gibi. Mas março se inicia, a Quaresma e seu jejum (que não farei) também, agora, sim, posso desejar Feliz Ano Novo a todos e todas. Quem sabe não seja este o momento de planejar a bagaceira do próximo 2018? O diabo é este gosto de corrimão na boca...


Foto do Romeu Duarte

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