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Flecha para todo lado

2017-09-06 01:30:00
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Os últimos dias de Rodrigo Janot na Procuradoria Geral da República (PGR) perigam não deixar pedra sobre pedra. É a antítese do grande acordo nacional sonhado por Romero Jucá (PMDB-RR) e Sergio Machado. As flechas disparadas envolvem toda a cúpula política e institucional da República. Com o STF, com tudo. Não sobra nem a PGR, nem os delatores da JBS. O alucinante início de Semana da Pátria provoca, a partir da Procuradoria, estrago de bomba norte-coreana. Faltam 12 dias para ele deixar a função. Ninguém pense que acabou.


O presidente Michel Temer (PMDB) teve alívio com a gravação que compromete a delação da JBS. Juridicamente, a prova pode até se sustentar. Politicamente, está morta e enterrada. Porém, ontem, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a delação premiada do doleiro Lúcio Funaro. Considerado operador financeiro do PMDB em vários esquemas, ele é visto como principal possibilidade de as investigações chegarem a Temer. A JBS se torna risco bem menor para o presidente, enquanto as revelações de Funaro deverão mostrar qual o tamanho de seu potencial destrutivo.


A denúncia contra Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff atinge outra banda do espectro política, que, depois de longo tempo sob artilharia, vinha em segundo plano há mais de um mês no noticiário policial das páginas políticas. Também foram atingidos os dois ministros da Fazenda da era petista, Antonio Palocci e Guido Mantega, a atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o marido dela e ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo, e os ex-tesoureiros petistas João Vaccari e Edinho Silva. Passado e presente do PT.

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Essa denúncia contra os petistas já estava, obviamente, engatilhada. Mas o momento em que foi revelada cumpre papel político. Janot é acusado de fazer o jogo da oposição a Temer. É questionado pelo presidente e está com credibilidade em risco. Pode não ter sido intencional - embora eu creia que foi, sim. Não importa. O efeito político é de uma resposta. Forma de legitimar e fortalecer o procurador-geral. Tentar mostrar distanciamento e isenção. Fragiliza o discurso de perseguição política contra Temer. Do ponto de vista midiático, dá um nó na cabeça dos simpatizantes do PT, que já viam em Janot o herói, e também dos governistas, que enxergavam nele um vilão.


Nas últimas 48 horas, Janot fez dois gestos dos mais determinantes para determinar seu lugar na história.

Não acabou ainda.


A LÓGICA PRAGMÁTICA DO MERCADO

O mercado reagiu com quase euforia à notícia da gravação que pode comprometer a delação da JBS e complicar os irmãos Batista. A consequência mais imediata, conforme a coluna apontou ontem, é o fortalecimento de Michel Temer (PMDB). Em um só gesto, desmoronam os dois principais adversários do presidente: Joesley Batista e Rodrigo Janot. Antes da questão jurídica, há o aspecto político. A denúncia só avança se for aceita pela Câmara dos Deputados. A primeira foi rejeitada, as chances da segunda eram menores ainda e se tornaram inexistentes. Por isso, o mercado comemora.

Perceba: as gravações não significam que Temer é inocente. Significam que não responderá a processo por essa razão. O governo segue. Os meios econômicos festejam.


Não que alimentasse ilusões, mas o episódio deixa escancarado como os que fazem o dinheiro circular estão pouco ligando se o presidente da República recebe ou não propina, se determina pagamentos para silenciar potenciais delatores, se está envolvido em favorecimento ou conluio com empresários. Deixar sem investigar qualquer das denúncias contra Temer, eventualmente invalidar provas, nada disso importa. O prejuízo ao patrimônio público decorrente da corrupção, problema nenhum, fica evidente.


Interessa apenas a possibilidade de extrair lucros. Alguma surpresa? Zero. Porém, o fervor cívico demonstrado por entidades como a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e suas congêneres parecia encenar algo diferente.

Os mercados se animaram porque a segunda denúncia que Janot deve apresentar não terá o mesmo impacto da primeira. Na tramitação anterior, a pauta legislativa parou, o governo teve de liberar recursos aos borbotões para o presidente não ser afastado. Havia risco de nova paralisia com a segunda denúncia. Esse impacto deve ser significativamente amenizado. A perspectiva para propostas do governo avançarem melhora consideravelmente. Assim, a economia reage positivamente. São os reflexos da expectativa de impunidade.

O mercado é pragmático e aético.

Érico Firmo

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