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O acerto e o erro de Tasso

2017-08-19 01:30:00
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Tasso Jereissati (PSDB) cometeu um erro em relação ao programa do PSDB que não é novo em sua trajetória. Ele nunca foi propriamente dado a conversar muito, a compartilhar decisões. Sempre foi seu estilo: se estiver em posição de decidir, ele pode até ouvir opiniões. Mas vai resolver conforme sua cabeça. No âmbito federal, ele até se contém um pouco, pela própria natureza da arena em que está. Mas se seus pares no PSDB nacional não sabiam disso, a política cearense bem sabe que Tasso, com poder na mão, faz aquilo que acha que tem de fazer, independentemente de opiniões contrárias.


Há virtude e problema aí. Tasso erra porque a autocrítica do PSDB não foi conclusão à qual o partido chegou, mas sim seu presidente, sozinho. A postura adotada no programa que foi ao ar nesta semana é de partido que rompeu com o governo. Os tucanos não decidiram assim. Nem sei se algum dia decidirão.


Tasso erra no método, mas acerta no mérito. Ele age individualmente e sem consultar os demais, mas sua posição é mais correta que a do conjunto do partido. Aliás, é incrível como a política brasileira chega ao fundo do poço e ninguém parece achar que fez algo de errado. Nenhum dos principais partidos acha que tem alguma culpa.

 

O programa do PSDB, definido por Tasso, fez uma autocrítica discretíssima. Nem disse exatamente em que entende que errou. Foi o bastante para o partido entrar em ebulição.


Tasso errou ao não construir essa posição coletivamente. E o partido erra pela forma como reage. Poderia ter sido oportunidade para os tucanos tentarem se mostrar como diferentes e que não concordam com o rumo que as coisas tomam no País. Pelo contrário, o recado que ficou é de que está tudo bem, o caminho é esse mesmo.


O EQUILIBRISMO DE DÓRIA

O prefeito paulistano João Dória pratica o equilibrismo que se tornou atributo mais desejável de um tucano atualmente. Ele nega a todo custo hipótese de disputar a vaga de candidato a presidente com Geraldo Alckmin. Ao mesmo tempo, faz todos os movimentos de quem quer concorrer. Não quer briga, mas se coloca para ter condições de ocupar a vaga. Vontade a ele não falta. Disposição para brigar? Bom, antecipar a briga não é necessário nem inteligente.

 

OS ABUSOS DE GILMAR

Gilmar Mendes cada vez mais destoa e se tornou a grande estrela do Supremo Tribunal Federal (STF). Isso é ruim para um magistrado, de quem se espera discrição. Há oito anos, Joaquim Barbosa já disse a ele, em sessão do pleno : “Vossa excelência não está na rua não, vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro”.

Em gravações da Lava Jato, ele foi flagrado em conversa com Aécio Neves (PSDB) na qual faz às vezes de articulador político. Fala sobre interceder para que senador votasse em determinado projeto.


Agora, Gilmar volta a atuar como político. Assume papel de legislador. Apresentou aos presidentes das casas legislativas do Congresso Nacional proposta de implantação de parlamentarismo. Partiu do projeto de Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), hoje ministro das Relações Exteriores e senador licenciado, com ajustes. Ou seja, o ministro do STF fez “emendas” a projeto de um parlamentar. Alguma coisa está fora da ordem.


AS RELAÇÕES DO JULGADOR

O ministro tem cometido combo de excessos e extrapolações do que se recomenda para o cargo. Ele concedeu habeas corpus para o empresário Jacob Barata Filho, acusado de envolvimento em esquema de propina a políticos. Em 2013, o ministro foi padrinho de casamento da filha de Jacob com um sobrinho da mulher de Gilmar, a cearense Guiomar Mendes. O noivo era filho do ex-deputado federal cearense Chiquinho Feitosa.

A situação poderia ilustrar verbete num glossário sobre o que significa impedimento de um magistrado julgar alguém com quem tenha relação de proximidade. A justificativa de Gilmar beira o deboche: o casamento “não durou nem seis meses”.

 

A coisa está tão desmoralizada que, horas depois, juiz da primeira instância expediu novo mandado de prisão. E Gilmar mandou soltar Barata de novo.

 

Érico Firmo

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