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O resultado que chega à ponta

2017-07-22 01:30:00
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O Governo do Estado lançou nesta semana interessante iniciativa para ouvir a população como parte da avaliação da saúde. Escutar diretamente quem busca os serviços é a melhor forma de construir diagnóstico consistente e realista. É o meio mais adequado para corrigir problemas e potencializar acertos.

 

O caminho adotado na saúde serve para pensar no que ocorre na segurança pública. Tratei do assunto ontem: a secretaria responsável apresentou o balanço daquilo que fez. Mostrou o quanto foi realizado, embora os resultados não apareçam. Se muito foi feito e o cenário piorou, talvez a estratégia não seja a melhor. O fundamental é observar o resultado na ponta. Qual o efeito concreto da política pública.


Isso esteve no centro da política de segurança quando deu resultado. Sistema rigoroso e transparente de estatísticas, com premiações para quem alcançasse os resultados esperados. A tentação dos gestores públicos é olhar para aquilo que fez. Para a população, interessa o impacto real.


Construir escola e contratar professor é fundamental, mas o resultado precisa ser a melhora na aprendizagem, redução da evasão escolar. É importante construir hospitais e contratar profissionais, mas o objetivo é reduzir a mortalidade e a incidência de doenças. Contratar policiais, comprar equipamentos, prender criminosos e apreender armas é necessário. Como forma de reduzir a violência.

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O governante não pode olhar apenas para as ações sem se preocupar se está surtindo o efeito desejado. É necessário observar se o objetivo final foi alcançado.

 

Não é raro haver descompasso entre o que se vê na propaganda dos governos e o relato de quem precisa dos serviços públicos. A melhor publicidade para qualquer governo é política pública que chega até as pessoas e tem efeito direto na vida das pessoas.


Para ler o que escrevi ontem sobre a segurança, acesse este link: http://bit.ly/sspdsresultado


O IMPASSE A RESOLVER

No programa Debates do Povo da última segunda-feira, na rádio O POVO/CBN, o presidente do Conselho Penitenciário, Cláudio Justa, apontou uma das possíveis razões para as políticas de segurança do Ceará não estarem dando certo. Falou do Ceará Pacífico.

O princípio de reunir vários entes com objetivo de buscar soluções para a área não é apenas boa: é condição imprescindível para se alcançar algum resultado. Por melhor que fosse o secretário, ele jamais resolveria o problema sozinho. É preciso reunir várias áreas do governo e além. Judiciário, Ministério Público, sociedade civil, iniciativa privada. É preciso reunir todo mundo e ainda não é o bastante. Afinal, as facções criminosas são hoje multinacionais. É ilusão achar que um estado vai resolver sozinho. Camilo Santana (PT) já chamou atenção para isso e está certo. O Estado age no limite de suas possibilidades. Portanto, o princípio do Ceará Pacífico é perfeito.


A aplicação, porém, é problemática. Cláudio Justa acompanha as reuniões e relatou. Nesses encontros, ele acha e eu concordo, o pau deveria quebrar. Seria espaço para confrontar todos os problemas e impasses entre as instituições. Polícia se queixa que prende e a Justiça manda soltar. Ministério Público se queixa dos inquéritos policiais, Judiciário aponta problema nas denúncias apresentadas pelo MP. Isso tudo deveria ser colocado em questão nessas reuniões.


Não é o que ocorre, conforme relata Justa. Pelo contrário, muitas vezes são tratadas amenidades. Enquanto o sistema prisional desmorona, a Secretaria da Justiça leva o balanço de quantos presos foram aprovados no Enem. Todos acham ótimo, embora muitos desses detentos depois não consigam cursar universidade. Vira jogo de cena.


O espaço deveria servir para resolver gargalos, expor problemas e resolvê-los. O Ceará Pacífico é condição necessária para a segurança avançar. Porém, ele não pode ser apenas protocolar, institucional. Precisa colocar o dedo nas muitas feridas expostas.

Érico Firmo

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