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Tentáculos generalizados

2017-05-24 01:30:00
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As notícias sobre a rede de escândalos da JBS são desalentadoras pela abrangência de sua ação. A multinacional era tão capilarizada nos negócios quanto na inserção política. Foram financiados milhares de candidatos, de dezenas de partidos, em pelo menos 23 estados. Tinham relação desde presidentes da República até vereadores. A extensão é assustadora. Quem recebeu dinheiro não necessariamente é culpado. Há de se aguardar o desdobramento das investigações. Assegurar o sacrossanto direito de defesa. E houve gente que claramente recebeu por intermédio dos partidos, sem nem saber do que se tratava. Outros sabiam direitinho. É preciso fazer distinção dos casos. Não obstante, a forma como os donos da JBS orgulhosamente relatam suas doações mostra com clareza que eles contabilizavam todo esse pessoal na planilha dos que lhes deviam favores. Se a retribuição viria é outra história.


O que é difícil é, dados os métodos escancarados da empresa, imaginar que a JBS fazia doações interessadas a alguns partidecos, que repassava dinheiro que ia parar em candidaturas dos rincões do sertão cearense sem nada esperar em troca. Não é impossível, mas não soa crível.


PEDRA CANTADA, CANTADÍSSIMA

As prisões de dois ex-governadores do Distrito Federal e do agora ex-assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB) expõe um dos mais escancarados escândalos que o Brasil já conheceu. O escândalo da construção do estádio Mané Garrincha estava há anos e anos esfregado na cara dos brasileiros. Ninguém ser preso seria o deboche definitivo. Não houve qualquer cuidado nem de disfarçar. O orçamento era de coisa de R$ 600 milhões, mas a obra saiu por mais de R$ 1,5 bilhão. Mais que o dobro.

Para não dizer que falo isso de hoje, ainda em 2009, na coluna Menu Político, hoje assinada pelo colega Plínio Bortolotti, eu escrevi: “O mesmo ocorre com o estádio Mané Garrincha, no Distrito Federal. O governo de José Roberto Arruda esperava, também, financiamento privado para construir um novo estádio. Nada feito. E, pior, o orçamento inicial, de R$ 600 milhões, já chegou a R$ 700 milhões. E antes de as obras começarem”. Pode ler neste link: http://bit.ly/gastocopa1


Em 2014, a situação já era generalizada pelos estádios e mais explícita. Na época, descrevi: “Obras superfaturadas, atrasos, cancelamentos, serviços mal feitos, dinheiro público aplicado no que não devia, altos dirigentes que se afastaram em função de denúncias” (leia neste link: http://bit.ly/gastocopa2).


Não é problema isolado em Brasília. Outro ex-governador - Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro - foi preso por denúncias relacionadas ao Maracanã. Delações na Lava Jato levantaram suspeitas sobre outros quatro estádios. O cearense Castelão é um deles.

[FOTO1]

COISAS QUE DESCOBRIMOS COM OS ESCÂNDALOS

 

1) O articulador de toga

Gilmar Mendes fazia as vezes de articulador político do PSDB. Articulava voto com senador do PSDB com quem o próprio presidente do partido não tinha trânsito. Não é corrupção, mas é um acinte, um despropósito. Completamente descabido para um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que julga contas e ações relacionadas ao partido para o qual dá uma forcinha na política.


2) Empréstimo legal, embora discretíssimo

Curioso o argumento do senador Aécio Neves (PSDB) de que a suposta propina à qual fez referência Joesley Batista se tratava na verdade de empréstimo para pagar advogado. Empréstimo entregue em quatro malas por um portador que “tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”, conforme afirmou o senador afastado, de acordo com gravação.

3) A agenda noturna de Temer

O presidente Michel Temer (PMDB) considera que não há nada demais em receber gente na calada da noite. Diz que trabalha sempre até tarde. Conversa nessas horas inclusive com jornalistas. Faz parte. Porém, quando se trata de alguém investigado, fora da agenda oficial e com comentários vários sobre os cuidados necessários para se encontrarem, a discrição e a entrada pela garagem. Ainda mais o teor da conversa. A linguagem cifrada que denota intimidade dos que sabem do que estavam falando.

 

Érico Firmo

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