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O Exército nas ruas e na Esplanada

2017-05-25 01:30:00
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A solicitação de uso das Forças Armadas para conter manifestantes na Esplanada dos Ministérios remete aos períodos mais sombrios da história brasileira. É posição drástica em momento perigosíssimo. O Exército usado durante protestos. Durante o governo Dilma Rousseff (PT), as forças chegaram a ser acionadas para proteger Palácio e residências oficiais. Agora, porém, a atuação será mais ampla. A situação é inegavelmente grave e emergencial. O Ministério da Agricultura foi incendiado, o que ocasionou evacuação de toda a Esplanada. Um governo débil tenta mostrar força e faz isso por meio do braço armado do Estado.


As informações são desencontradas. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, atribuiu o pedido para acionar os militares ao presidente da Câmara. Rodrigo Maia (DEM-RJ), porém, disse que pediu a Força Nacional, composta por policiais dos vários estados. Coisa muito diferente.


A previsão é de que as Forças Armadas permaneçam nas ruas da Capital Federal por uma semana.


TEMPOS PERIGOSOS

A gravidade do momento político brasileiro é extrema. O governo não tem condição de se segurar, mas não se sabe o que ocorrerá se cair. Não se sabe o que colocar no lugar, nem mesmo como colocar. Não há no horizonte ninguém que pareça capaz de recompor a normalidade.

Governo e oposição estão chamuscados de maneira uniforme como nunca antes se viu na história do Brasil entre forças antagônicas. O que ocorreu ontem é sintoma de um País sem resquício de governo, de um lado, e da revolta extremada de alguns segmentos, do outro. O recurso às Forças Armadas é a derradeira forma de demonstrar autoridade.


Impossível não sentir calafrios ao se observar demonstração de força militar por parte de governo na iminência de cair. Ainda mais considerando que os mesmos atores agiram de forma um tanto questionável pelo impeachment da ex-presidente eleita, Dilma Rousseff (PT).

 

A INSUSTENTÁVEL APARÊNCIA DE NORMALIDADE

Patética a tentativa do presidente Michel Temer (PMDB) de tentar demonstrar alguma normalidade. As instituições estão combalidas, vilipendiadas após anos de escândalos escabrosos. A cada intenção de demonstrar que tudo prossegue sem sobressaltos vê-se o vexame. No domingo, o jantar que deveria demonstrar força política foi cancelado por falta de adesão. Converteu-se, pois, em demonstração de fraqueza.

O plano de tocar as votações no Congresso Nacional produziu as cenas mais constrangedoras da política brasileira nos últimos tempos, salvo as gravações de malas indo e vindo. O momento mais escatológico foi a votação na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. A folgada maioria que o governo costuma ter se converteu em votação apertada: 13 a 11 contra o adiamento da sessão, na qual seria lido o parecer sobre a reforma trabalhista.


Em seguida, houve uma briga generalizada, enquanto o presidente do colegiado, o cearense Tasso Jereissati (PSDB), tentava conter os ânimos. A sessão foi suspensa e o parecer foi considerado lido - sem que leitura, todavia, tivesse ocorrido.

 

Na Câmara dos Deputados, a base de Temer usou recurso normalmente típico das oposições e minorias: valeu-se da obstrução para não deixar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) votar a proposta de emenda à Constituição (PEC) das eleições diretas.

[FOTO1]

Depois da convocação das Forças Armadas, houve empurra-empurra entre deputados e revolta entre senadores. A coisa degringolou. Ao governo, nada resta a não ser o Exército nas ruas.

Érico Firmo

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