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Curiosidades para o caso de Tasso virar presidente

2017-05-27 01:30:00

Os bastidores fervilham há uma semana em busca de nome para substituir Michel Temer (PMDB), o ainda, porém rifado, presidente. A bola da vez já foi Henrique Meirelles (PSD), Cármen Lúcia. Ontem os nomes da vez eram Tasso Jereissati (PSDB) e Nelson Jobim (PMDB), nessa ordem. Tasso é o nome que restou no PSDB. Recebeu o apoio do petista Camilo Santana. A ser confirmada, a eleição indireta de Tasso terá desdobramentos um tanto interessantes, quando não engraçados:


1) Tasso já foi o homem mais poderoso e, portanto, paparicado do Ceará. Quando perdeu poder, antigos bajuladores o abandonaram. Ao não ser reeleito senador, em 2010, ficou quase sozinho. Uma vez presidente, será engraçado ver a revoada dos velhos tassistas.


2) Será interessante observar a posição dos Ferreira Gomes em relação a um governo Tasso. Eles têm feito dura oposição à coalizão PMDB/PSDB. Como será com a eventual ascensão do cearense, que projetou a família sobralense no Estado? E de quem Cid e Ciro Gomes se tornaram adversários há sete anos. Ciro manterá disposição de concorrer a presidente nesse cenário? Com qual discurso?


3) Camilo Santana foi o primeiro petista a demonstrar publicamente simpatia pela ideia de Tasso presidente. Vale registrar que o tucano é, dos três senadores do Estado, aquele com quem o governador tem maior afinidade. Mais até que com o também petista José Pimentel. Com Eunício Oliveira (PMDB) nem se fala. Porém, Tasso na Presidência muda muito o cenário para 2018 no Ceará. No dia do segundo turno da eleição do ano passado, o senador apontou como prioridade para o ano que vem derrotar os governistas cearenses. “Esse bloco PDT/PT está sendo excluído no Brasil inteiro, pela enorme decepção, pelos estragos, pela incompetência, pela visão equivocada. E chegou a hora de o Ceará também encontrar seu novo rumo. O Ceará está parado. Há muito tempo parado”, disse a este colunista, em 30 de outubro de 2016..


4) Tasso entrou na política como homem de ruptura. Governo sempre com perfil de enfrentamento. Agora, terá de ser conciliador em momento de crise generalizada.


GILMAR QUER MUDAR O RITO DA LAVA JATO

O ministro Gilmar Mendes fez dois movimentos na contramão do encaminhamento que vem sendo dada à operação Lava Jato há mais de três anos. Primeiro, quer rever a homologação da delação da JBS pelo ministro relator Edson Fachin. Ele reconhece que a lei delega ao juiz a prerrogativa, mas, por se tratar de tribunal colegiado e de caso que envolve o presidente da República, a decisão deveria passar pelo pleno, entende.

A opinião faz sentido, mas o próprio Gilmar reconhece que não é o que está na lei. Tudo bem, é possível haver entendimentos diversos. Porém, mudar isso em delação tão grave, já homologada e que motivou inquérito contra presidente da República é bastante complicado. É ruim mudar entendimento no meio da investigação.


Mais complicado ainda: Gilmar Mendes aparece em gravações com Aécio Neves (PSDB). Não é flagrado em nenhum crime. Mas, em postura inadequada para alguém em sua posição: discutindo negociação de apoio político de senador do PSDB a projeto de lei sobre abuso de autoridade, que prevê punições inclusive a membros do Judiciário que cometam excessos. Gilmar justificou que sempre apoiou a proposta. Isso é uma coisa. Outra coisa é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) articular votos de parlamentares no Congresso Nacional. A pedido de político enrolado talvez como nenhum outro na Lava Jato, como é o caso de Aécio.


Agora esse ministro quer rediscutir a homologação da delação que pega Aécio, Temer e outros tantos mais. Inadequado, no mínimo.


PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA

Não é o único ponto que Gilmar Mendes quer rever. Ele propõe rediscutir prisão em segunda instância, decidida há seis meses. É a regra que permite que o réu seja preso a partir da confirmação da condenação por tribunais estaduais ou tribunais regionais federais. Antes, o réu só cumpria pena após trânsito em julgado.

Rediscutir a medida após tão pouco tempo não faz sentido, ainda mais em momento no qual se cogita o risco de Michel Temer ser preso se renunciar à Presidência e quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está prestes a ser julgado. Soa não só a casuísmo. Fica no ar a suspeita de algum arranjo político para Temer renunciar e o PT não reclamar muito de quem for escolhido em eleição indireta.

 

Érico Firmo

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