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Empregos indicam que Temer poderá ganhar fôlego

2017-03-17 01:30:00

O crescimento do número de empregos formais no País, depois de dois anos, é ótima notícia para a economia em geral e para o governo Michel Temer (PMDB) em particular. Não à toa, foi criado circo político para potencializar a agenda positiva. Normalmente, os números são anunciados no fim do mês pelo Ministério do Trabalho, sem entrevista. Desta vez, o anúncio foi antecipado e o próprio presidente fez o anúncio.


No atual nível de impopularidade, Temer precisa de fato novo e de grande impacto para que seu candidato venha a ter alguma chance na sucessão de 2018. Essa hipótese hoje parece extremamente remota. Ele precisaria de sua versão do Plano Real. Naquela época, a inflação era a vilã. Hoje é o desemprego. Para as forças governistas se manterem no poder, o atalho mais próximo me parece o significativo crescimento do nível de emprego.


As ações do governo Temer não sugerem ser possível que isso ocorra de forma significativa no pouco mais de um ano e meio até a eleição. Todo o programa do peemedebista está voltado para a recuperação estrutural da economia, cujos efeitos estimados não virão tão cedo. Também não é só pela economia que a impopularidade tão peculiar do governo irá ser solucionada. Além do mais, a recuperação é ainda tímida. No Ceará, foram 64 contratações a mais que as demissões.


Por ora, tudo muito tímido. Mas, há um movimento a ser comemorado. O desemprego parou de crescer, ao menos neste mês.


Não quer dizer que a popularidade do presidente irá melhorar, que o candidato de seu governo será competitivo em 2018. A questão é que a queda do desemprego é condição indispensável para a avaliação sobre Temer melhorar e para as forças governistas terem possibilidade de saírem vitoriosas. A queda do desemprego não quer dizer que o governo sairá do buraco.


Se o panorama político para o Planalto vai ou não melhorar eu não sei. Mas, para que haja possibilidade de isso acontecer, era imprescindível passar por esse estágio de retomada do emprego.


Mas, há ainda a Lava Jato, a pauta impopular, a falta de carisma, a rejeição política... Os obstáculos não são poucos. De todo modo, a estatística sobre emprego é rara notícia boa nesse governo. Temer pode tirar proveito.


VAZAMENTOS COMPROMETEDORES

Informações do Judiciário sempre vazaram e, no caso da Lava Jato, tornaram-se rotina à qual a opinião pública já se acostumou e sobre a qual até nutre expectativa. Ocorre que isso está errado, e muito. O sigilo na operação está desmoralizado. Não é normal que as informações sobre o mais importante processo da história política brasileira sejam tornadas públicas quase em tempo real, à revelia do Judiciário. Os vazamentos se prestam a divulgação seletiva, com risco de prejudicar ou favorecer muita gente.

Por que alguns nomes são conhecidos e outros não? Apenas pela relevância das funções que ocupam? Verdade que há nomes graduados de todos os grandes partidos. O que não significa que o vazamento deixa de servir a interesses. Mais que os nomes conhecidos, há de se ter atenção aos que não foram informados ainda. Quando o que resta de sigilo for levantado, será possível ter essa noção.


Se vazou é porque alguém de dentro da operação deixou as informações virem a público. É grave que, numa operação contra a corrupção, haja integrantes que se recusam a cumprir as normas e passam por cima dos magistrados. Postura indicativa de justiceiros, que se julgam acima da lei. Isso é perigoso. Algum nível de vazamento não deixa de natural, mas a situação instaurada foge da normalidade. Há pessoas sendo expostas e outras protegidas. Isso é muito perigoso. E autoritário.


MOVIMENTOS SUBTERRÂNEOS

Enquanto cresce a pressão sobre Brasília, intensificam-se as movimentações para livrar tantos quanto for possível. A tramitação dos processos tem sido lenta. Dois anos após a primeira lista de Rodrigo Janot, apenas quatro dos 55 viraram réus. Tempo o bastante para a poeira baixar. A articulação mais visível é a que pretende anistiar casos de caixa dois. Mas, agregado a ela, há outra mobilização ainda mais espúria. Tem deputados que querem legalizar os casos de caixa um nos quais há indícios de propina. Como se o fato de entrar na prestação de contas oficial tornasse o dinheiro limpo. Em bom português, o objetivo é legalizar algumas formas de propina que financiam campanhas políticas. Quando se pensa que não faltava mais nada.

De modo que, pelo desejo de alguns, a situação ficaria assim: não haveria punição para caixa dois sem propina, nem para caixa um com propina. Para haver penalidade, precisaria haver o combo — caixa dois mais propina.

 

Érico Firmo

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