Santo de casa também faz milagre
No final do segundo tempo, quando o placar de 2 a 0 definia o jogo de domingo passado em favor do Ferroviário, vi pela TV o auxiliar-técnico Jorge Veras, todo sorridente, se levantar e dar um abraço pra lá de apertado no técnico Vladimir de Jesus.
Lembrei-me de Vandré: “É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.“ Vladimir, apesar de histórias vitoriosas, tinha recentemente saído do Uniclinic com a pecha de incompetente, e Jorge tinha sido dispensado pelo Fortaleza.
Conforme o próprio técnico do Fortaleza reconheceu, em entrevistas no final da partida, o Ferroviário teve a vitória amparada na disciplina e na tática. Evidente que se o Fortaleza tivesse feito um gol no período em que dominou a partida a história seria contada diferente.
Só que não podemos ficar levando em consideração uma série de fatores que poderiam determinar o rumo da partida. Interessa como uma equipe considerada inferior acreditou que determinadas manobras ofensivas e defensivas postas em prática poderiam levá-la à vitória.
Quando o Fortaleza tinha a bola, os jogadores do Ferrim se posicionavam atrás da linha da bola e marcavam individualmente. Ótimas atuações de Glauber, Jonathas e Mimi, que além de marcarem os seus, ainda dobravam a marcação.
Exceção apenas para Mota, que cercava e flutuava na frente da zaga do Fortaleza, pois dele deveriam sair os passes para as penetrações de Vitinho. Foi com essa proposta que o Ferrim foi para campo. Jogava por uma bola para sair na frente do marcador.
O gol corretamente anulado a favor do Ferroviário aos 31 minutos do 1º tempo parece ter sido uma ducha fria no Fortaleza. Tipo assim: “não estamos conseguindo fazer lá e a qualquer momento eles fazem um aqui”. A partir dali a equipe se perdeu.
Chico Buarque, na sua antológica composição “Bom Conselho”, muda o sentido de alguns ditados: “eu semeio vento na minha cidade, vou para a rua e bebo a tempestade” é um deles. Podemos dizer, em homenagem a Vladimir de Jesus e Jorge Veras, que Santo de casa também faz milagre.
Sérgio Redes