PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Procura-se um ídolo

2017-03-16 01:30:00
CAMINHOS DE CLODOALDO

Nestes tempos do futebol cearense em baixa, aceitei a sugestão do amigo Romeu Duarte e andei escrevendo sobre jogadores que se tornaram ídolos na década de 1970. Comecei pelo Artur e Louro, mas o noticiário me desperta e lembro do último ídolo que tivemos.


Sentado no banco na condição de supervisor de futebol, vi, com um misto de frustração e admiração, Clodoaldo deitar e rolar contra os alvinegros. O Ceará era melhor individualmente, tínhamos maior posse de bola, perdíamos muitos gols.


E, de repente, o contra-ataque. Bola colada no pé esquerdo, Clodoaldo partia em alta velocidade. A corrida entremeada de paradas bruscas e saídas rápidas desnorteava seus marcadores, o goleiro saía da meta para diminuir o ângulo. Era o espaço suficiente para a bola ser colocada por cima dele.


O grito de guerra da torcida do Fortaleza atordoava os ouvidos dos seus adversários. “Uh! Terror! Clodoaldo é matador.” Se dentro do campo acabava com o jogo, fora dele sua ambição consistia nos papos com os amigos, na bebida e nos prazeres da cama.


Enquanto rendeu como jogador, os dirigentes ainda o aturaram. Quando começou a ser vencido pela idade e pela falta de condição física, ninguém mais se interessou. Nunca reclamou. Parecia saber que a ingratidão e a injustiça estão na própria essência do futebol profissional.


Dizem que a bebida era sua maior inimiga. Ah! A bebida. Esse combustível que alimenta o desvario e o consequente interesse pelos caminhos e descaminhos da vida.


O jogador de futebol não deve beber, diz um. A profissão tem curta duração e deve-se economizar, diz outro.


O desprezo pelos valores burgueses da vida expressos nas atitudes de Clodoaldo desapontou quem gostaria de ter seu ídolo como espelho e encontrar no comportamento dele justificativas para anseios pessoais. A notícia de sua prisão por não pagar pensão foi a gota d’água.


Seus críticos dizem que jogou fora tudo o que ganhou. É assim mesmo! São muitos os ídolos que não suportam o dia a dia e precisam de mais e mais adrenalina. A questão é que Clodoaldo não joga mais e precisa-se de um novo que nos alimente o sonho.


Nunca reclamou. Parecia saber que a ingratidão e a injustiça estão na própria essência do futebol profissional

Sérgio Redes

TAGS