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O uso indevido do press release
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O uso indevido do press release

Press release, ou simplesmente release, é um instrumento de comunicação muito utilizado pelas assessorias de imprensa para enviar informação a jornalistas chamando atenção para temas, produtos, lançamentos de empresas ou instituições. No O POVO, o capítulo Normas jornalísticas, do Guia de Redação e Estilo, informa sobre o assunto e estabelece que o release “deve servir, no máximo, como um subsídio adicional para o trabalho jornalístico, cabendo ao jornalista checar a correção das informações que ele veicula”. Pois, na quinta-feira passada (23/2), a regra foi quebrada em uma matéria publicada no O POVO. O conteúdo foi editado praticamente igual a um texto com o mesmo assunto publicado em outro veículo de comunicação. A semelhança do texto foi notada por um leitor que enviou: “CE receberá 112 mil turistas no Carnaval” (O POVO, dia 23/2, página 19). “Carnaval atrai cerca de 112 mil turistas para o Estado” (Diário do Nordeste, dia 23/2, página 6, Negócios). Acho que é release da Secretaria de Turismo. Ou não?”

Após o alerta do leitor, fui verificar os textos dos dois jornais. As matérias eram idênticas. Usavam praticamente as mesmas palavras, as mesmas informações e até a mesma fala do secretário do Turismo do Ceará. Pesquisei também no site do Governo do Estado e constatei que o texto que constava na página era igual ao publicado no O POVO. O release enviado pela assessoria de imprensa do órgão foi publicado do mesmo jeito no jornal. Vale ressaltar que os press releases podem e devem ser enviados por assessorias de imprensa. É um instrumento importante para divulgação. O jornalista sabe que texto remetido por assessoria faz parte de uma lista; por isso, deve servir apenas como ponto de partida. Não é para ser publicado igual - senão, vira propaganda. É básico.

Enviei email questionando aos editores responsáveis pela publicação se o release havia deixado de ser apenas subsídio para a apuração de notícias na editoria. Não recebi uma resposta até o prazo estabelecido.

Divulgar release na íntegra pode ser justificado em pequenas publicações. Em um jornal como O POVO, fica feio. É vergonhoso. Não condiz com a tradição de 89 anos e com a credibilidade do jornal. É lógico que release é importante para a divulgação de informação, e os jornalistas sabem disso, mas os dados sempre vão precisar de checagem antes de publicados.

ENTRE O FATO E O HUMANO
Uma matéria publicada na quarta-feira passada na editoria Cotidiano me chamou atenção positivamente. O conteúdo abordava um ano do desabamento de uma ponte, que fazia parte do viaduto no cruzamento das avenidas Raul Barbosa com Murilo Borges, e que matou dois operários. Com o título “Um ano depois, famílias de vítimas não foram indenizadas” (ver fac-símile), o texto contou a história de saudade e espera por indenização das famílias dos dois operários mortos no acidente. É uma pauta até comum, pois contar tempo faz parte do cotidiano dos jornalistas.

O conteúdo, porém, soube mesclar as histórias de vida dos familiares que ainda buscam algum tipo de reparo para a perda com a cobrança necessária ao poder público e às empresas responsáveis pela obra. Foi um bom momento durante a semana no O POVO.

AÇÃO E DEVOLUÇÃO
O Regimento do Cargo de Ombudsman do O POVO, no item 3, estabelece: “As atribuições do Ombudsman não se restringem à análise e à crítica dos conteúdos editoriais publicados pela Redação. Sua função compreende receber e encaminhar reclamações de leitores em relação a todos os setores do Jornal.” Transcrevo o item acima para comentar um caso ocorrido na quarta-feira passada (22/2).

Um assinante entrou em contato com a ouvidoria para se queixar do recebimento de um exemplar da revista Veja encartado junto com O POVO naquele dia. “Eu não quero receber esta revista em minha casa. Vou devolver, mas, para isso, tenho que perder tempo, ir até a sede do jornal”. Ele sugeriu que, antes de enviar o exemplar, o setor responsável devesse entrar em contato com o assinante para saber se ele desejava receber a revista.

Enviei a reclamação do assinante para os responsáveis pelo setor. Em resposta imediata, o diretor de Mercado Leitor, Victor Chidid, orientou que o nome do leitor fosse tirado da lista. Na quinta-feira (23/2), o assinante compareceu ao O POVO para devolver o exemplar, que foi devidamente encaminhado para o setor de Controle de Circulação. O diretor de Mercado Leitor também explicou como é feita a seleção para o envio: “Essa é uma ação comum que os jornais fazem. Temos uma parceria antiga com a Editora Abril. Selecionamos assinantes antigos e fiéis, para receberem esta cortesia. Distribuímos cerca de 2.000 revistas e só tivemos duas reclamações, a que você me repassou, e outra, enviada pelo Plínio (Bortolotti, diretor Institucional do O POVO).”

Fazer uma ação com revista é válido, pois, como as empresas trabalham com notícias, são afins. Melhor que distribuir outros tipos de brindes. Porém, o assinante tem direito de escolher o que pretende receber e ler em sua casa. Teria sido melhor fazer uma consulta para ter certeza se o leitor desejava receber o exemplar da revista.
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