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Haddad e as desventuras com a mídia

2017-06-17 17:00:00
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Depois de três colunas seguidas, nas quais abordei problemas relativos aos meios de comunicação, parecia que o assunto estava de bom tamanho, por ora. Porém, um artigo do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), na revista Piauí - “Vivi na pele o que aprendi nos livros” - complementa, com exemplos reais, os temas que venho tratando: os malefícios da concentração da propriedade e da falta de diversidade na mídia brasileira - e como isso concorre para solapar a democracia.

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PARA HADDAD, “os grandes grupos de comunicação são geridos por famílias que pensam da mesma forma e têm a mesma agenda para o País, com variações mínimas. Em momentos cruciais de nossa história, como em 1964 e 2016, atuam em bloco”. Falando do cerco que sofreu da imprensa paulistana, Haddad narra várias casos do tratamento desproporcionalmente negativo dirigido à sua administração pelos principais jornais e emissoras de rádio e televisão.


AO COMENTAR o que ele considera uma guinada do PSDB para a vertente do “conservadorismo regressivo em relação dos costumes e direitos civis”, o ex-prefeito afirma: “Curiosamente, o veículo que mais respaldou essa pauta foi aquele de quem menos se esperava uma aproximação com o obscurantismo: o jornal Folha de S.Paulo”. Como exemplo, cita o caso do suposto “kit gay”, que Haddad foi acusado, equivocadamente, de querer distribuí-los nas escolas, quando ministro da Educação.


A FOLHA ADOTOU “kit gay” como “retranca” (palavra ou expressão destacada) para abrir suas matérias sobre o assunto. Agindo assim, “o jornal deu dignidade a uma abordagem que contribuiu para que o debate sobre direitos civis atrasasse cinquenta anos no país”, afirma o ex-prefeito.


DO JORNAL O ESTADO de S. Paulo, Haddad diz ter colecionado 413 editoriais contra a sua gestão. Em um deles (2016), o jornal apostava que, sendo ele um “demagogo”, jamais reajustaria a tarifa de ônibus em ano eleitoral. Quando o aumento foi concedido, o jornal escreveu um “duro editorial” com o título “Cada vez mais caro e ruim”.


A REVISTA VEJA SÃO PAULO afirmou (6/2/2015) que as ciclovias da Prefeitura eram as mais caras na comparação com outras nove cidades estrangeiras. Segundo Haddad, a revista desconsiderou a necessidade de enterrar a fiação, a reforma de canteiros e outros serviços. Ele diz ter levado mais de um ano para desmentir o fato. E, quando o Tribunal de Contas do Estado denunciou que uma ciclovia provisória do Metrô de São Paulo havia custado “seis vezes mais que as ciclovias da prefeitura”, a informação teria sido publicada na revista Exame, também da editora Abril, mas de tiragem menor que a Veja.


QUANTO À GLOBO, Haddad diz que o Fantástico fez uma série de matérias sobre um programa municipal chamado FabLab - laboratórios de impressoras 3D - para fomentar o empreendedorismo. “Não me lembro de que tenham feito (no Fantástico) menção à Prefeitura de São Paulo”.


PORÉM, ESSE TRATAMENTO, diz, não o incomodava; o pior era quando a matéria jornalística “afetava negativamente a vida dos beneficiários de políticas públicas”, fazendo crescerem “o preconceito e a intolerância em relação aos mais vulneráveis”. Ele atribui à Folha de S. Paulo “grande parte” da responsabilidade pelo fim do programa “De Braços Abertos”, que, em um ano, segundo ele, reduziu o fluxo de moradores em situação de rua na Cracolândia, de 1.500 para 500 pessoas, atestado por pesquisa independente da Open Society Foundations.

 

Patrimonialismo


O título completo do artigo de Fernando Haddad é “Vivi na pele o que aprendi nos livros - Um encontro com o patrimonialismo brasileiro”. Ele diz que a corrupção no Brasil não é “sistêmica”, pois, se fosse, seria possível pensar um patrimonialismo sem corrupção. Para ele, a corrupção é “corolário” (consequência) do patrimonialismo, a captura do Estado e de suas instituições para atender a interesses privados, a “antítese da República”.


Justiça Sem Partido


“O problema é que instituições que deveriam funcionar para, na forma da lei, dar respaldo a quem ganha as eleições para executar seu plano de governo agem, muitas vezes, de forma facciosa. Hoje a bandeira a empunhar talvez fosse a da “justiça sem partido’”. (F. Haddad)


Crédito


A íntegra do artigo na piauí: (https://goo.gl/jqMliM).

Adriano Nogueira

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