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Homão da porra
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Homão da porra


Levei algum tempo pra me situar nesse debate sobre os predicados do ator, pai, marido e “perfomer” Rodrigo Hilbert, um cara moderno que mata e esfola sem perder a ternura. Nada contra o Rodrigo. Nem acho que ele tem que parar o que está fazendo, que se confunde um pouco com atuação, já que nunca é apenas privado, certo? É sempre essa confusão entre “reality” e realidade.


Na verdade, isso nem importa tanto. Assisti ao programa dele algumas vezes e, em todas elas, ficava mais tempo pensando nos efeitos anestesiantes que a imagem do Rodrigo Hilbert cozinhando causava no público feminino do que no perfil multitarefas que ele demonstrava haver construído pra si mesmo. O cara é realmente um homão da porra. Mas, de vez em quando, aquilo parecia calculado. Excessivo. Então batia a dúvida: isso só pode ser de mentira. É tudo ficção. O Rodrigo é um ET.


Por mais inverossímil, a hipótese não é tão absurda assim. A história do cinema está repleta de alienígenas enviados à Terra para nos ensinar coisas melhores, seja manejar uma tecnologia que não dominamos, seja pra ajudar na nossa evolução. E se Rodrigo for um ET mandado pra cá pra ajudar na progressão dos homens que esquecem a cueca em cima da pia ou acham que a tarefa de deixar os filhos na escola ou educá-los é apenas das mulheres?


Fiquei pensando nessa questão. De fato, o ator não parece muito humano, e é difícil acreditar que ele e o Tiririca são feitos da mesma matéria. Rodrigo é muito perfeito. Maxilar quadrado como o dos heróis de HQs, forte, alto, louro. Um ariano esculpido pela mão zelosa da natureza para humilhar os homens feios, como brincou um cearense gaiato no Facebook num post que viralizou.


Rodrigo não perde a paciência em casa. Nunca soltou um pum na frente da esposa. Jamais foi adiando o conserto da máquina de lavar por semanas apenas por preguiça. Rodrigo acorda cedo e mata um novilho antes do café, depois planta legumes no quintal de tarde, prepara uma salada de noite e alinhava um crochê antes de dormir. E ainda satisfaz a esposa, a lindíssima Fernanda Lima.


Ora, matei a charada: Rodrigo é um alien. Só pode ser. Tem tudo pra ser. Aliás, ele tem que ser. Quer dizer, e se não for? E se Rodrigo for gente de verdade? E se, por baixo daquela pele queimada de sol, houver não uma placa-mãe e transistores, mas veias e sangue como os dos homens que fazem muxoxo sempre que precisam ir às compras no sábado ou preparar o almoço durante a semana?


Nesse caso, os homens têm total razão em se sentirem incomodados. Rodrigo é uma ameaça vinda do futuro. É disruptivo. É um exterminador de velharias. É o advento do CD na era do vinil. É a tecnologia móvel no tempo do telefone fixo. É um Uber num mar de táxis, como disse uma menina no Twitter. E a gente virou um Nokia 3310, uns gramofones ambulantes tocando sozinhos um disco arranhado.

 

Rodrigo é digital. A gente é analógico. Enquanto ele sopra segredinhos culinários nos ouvidos do mulheril e constrói um triplex de madeira pros filhos, a gente reclama, bodeja e dá chilique, mas continua tudo do mesmo jeito. Mais ou menos como fazem os taxistas e, muito antes deles, os dinossauros.

Foto do Henrique Araújo

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