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O impeachment: um ano depois
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

O impeachment: um ano depois

"Quanta honra o destino me reservou de poder, da minha voz, sair o grito de esperança de milhões de brasileiros. Por isso eu digo ao Brasil: sim para o futuro", discursou emocionado o deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE), o voto número 342 na sessão que aprovou a admissibilidade do processo que resultaria na destituição da presidente Dilma Rousseff (PT). O País vivia, então, a euforia do impeachment, com ruas em festa e o Congresso em ebulição.

 

 

O que o hoje ministro das Cidades do governo Michel Temer não podia imaginar - ou talvez até pudesse, mas não quisesse - era que o futuro lhe reservaria muitas dores de cabeça. Um ano depois daquela histórica sessão, realizada num domingo para garantir presença de público e audiência televisiva, Araújo é apenas um dos quase 100 nomes investigados a partir da lista de pedidos de inquérito apresentada por Rodrigo Janot e autorizados por Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF. O tucano, um dos oito ministros sob a mira da PGR, é acusado de haver recebido R$ 600 mil em propinas da Odebrecht, em cujas planilhas aparece sob o codinome afetuoso de "Jujuba". Ele nega - tanto o malfeito quanto o apelido.

 

 

Um ano depois, como se anestesiado pela sucessão de listas indigestas produzidas pela Justiça, o Brasil vive uma espécie de depressão, com as ruas esvaziadas e o Congresso em silêncio. Naquele 17 de abril de 2016, porém, a situação era outra: a Lava Jato avançava sobre o governo Dilma, erodindo sua base parlamentar. Os alvos eram quase todos petistas, com Lula galvanizando as insatisfações populares, que se expressavam em manifestações em todo o País. Do outro lado do balcão, como grande vitorioso e pivô do impeachment, com o o qual tentava negociar em seu próprio benefício, estava o então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso em Curitiba.

 

 

Neste 17/4, nem as ruas são mais as mesmas - os últimos protestos fracassaram e o "Fora, Dilma, fora, Lula, fora, PT" virou uma perigosa rejeição à política -, tampouco o novo regime, capitaneado por Temer, pode dizer que esse futuro pelo qual Bruno Araújo votou "sim" interessa de fato aos milhões de brasileiros, que se surpreendem agora com a extensão da corrupção demonstrada pela Lava Jato, abarcando partidos de A a Z. Um ano atrás, a necessidade de "estancar a sangria" da operação policial produziu cenas curiosas, como os votos pelo impeachment dedicados à família, à mãe, ao marido, aos filhos, aos estados de origem e por aí vai, num show de horrores que chocou o País. Hoje, acossados pela PRG e o Supremo e incertos de sua sobrevivência, os deputados e senadores ensaiam uma anistia para seus próprios crimes.

 

Foto do Henrique Araújo

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