PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

O risco do sebastianismo

2017-06-08 01:30:00

A recuperação econômica do País depende consideravelmente do grau de estabilidade na política. Quanto mais instável se mantiver a política, mais demorado e incerto será o processo de retomada da economia e, portanto, dos empregos. Porém, a política está sendo governada pela Lava Jato e seus desdobramentos, que se arrastam penosamente. Por isso, são baixas as chances de estabilidade no curto prazo.


Hoje, a maioria dos analistas considera que está em processo o descolamento entre economia e política. É o fruto da percepção de que a equipe econômica do Governo está fazendo a coisa certa e não foi contaminada pela crise política. É evidente que isso não resolve o problema. No máximo oferece alguma certeza diante de tantas incertezas.

[QUOTE1]

Como a economia brasileira ainda é muito dependente de decisões administrativas no âmbito do Governo central, portanto dependente de uma política atravessada por investigações criminais, é de se fazer crer que a retomada firme de crescimento econômico só será possível com a eleição do novo presidente nas eleições de 2018. Claro, desde que este faça a coisa certa.


Nesse sentido, o ideal é que as investigações cheguem a seu fim o mais rápido possível. É fundamental que tudo seja feito no máximo respeito às leis. Este é um ponto crucial. Afinal, quanto a isso (o respeito às leis), não são poucos e nem irrelevantes os questionamentos que se evidenciam.


O fato de ser muito importante e um marco para o País, a Lava Jato, seus desdobramentos e os agentes públicos que as comandam, muitos deles bastante jovens, não estão imunes a erros e a arroubos sebastianistas (no sentido de se colocarem como salvadores da pátria e, em função disso, cometerem arbitrariedades).


Nesse ponto, vale uma luz sobre o comportamento da imprensa. De forma geral, os jornalistas sempre deram ares de credibilidade a tudo o que vem do Ministério Público e de seus membros como se fosse a manifestação da verdade e da justiça. Principalmente quando estes se colocam como uma espécie de controle externo da política, que, por sua natureza, tem “ética”
muito própria.


Há sempre o risco de levar ao linchamento trajetórias políticas após a exposição de indícios e denúncias oriundas, por exemplo, das forças tarefas envolvidas nas investigações nacionais. Que se adote muito cuidado: uma investigação, uma denúncia ou uma delação não são necessariamente a expressão da verdade.


Cito dois exemplos cearenses para reflexão. As delações da JBS que atingem o ex-governador Cid Gomes (PDT) e o senador Eunício Oliveira (PMDB). Atentem: o primeiro tratou de doação de campanha. Não é algo adequado a um governador pedir doação eleitoral, mas também não é proibido por lei.


O delator trata os sugeridos R$ 20 milhões como propina. Porém, há claros indicativos de que se tratava de doação de campanha mesmo que a JBS só a tenha feito após o pagamento do que efetivamente lhe era devido pelo Governo cearense. Então, se enquadra apenas como crime eleitoral desde que a doação não tenha sido oficialmente registrada.


No caso do hoje presidente do Senado, o dono da JBS disse que era pessoa de seu relacionamento e que bancou R$ 5 milhões (que ele chama de propina) para a campanha estadual de Eunício em 2014. O delator disse ainda que havia a combinação de uma troca, mas que o senador jamais lhe deu nada de volta. Sendo assim, é só doação.


Caso o raciocínio seja correto, cabe à Justiça Eleitoral tratar dos casos. São apenas elementos e contrapontos para reflexão dos leitores.

 

Adriano Nogueira

TAGS