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Vou de táxi, amigo!

2017-04-06 01:30:00

Só usava táxis em Fortaleza quando meu carro estava em manutenção. Achava o serviço de baixa qualidade (com honrosas exceções) e preço alto. É curioso: o serviço de táxis é uma concessão pública com prazo infinito e sem critérios de qualidade. Muitas vezes, a concessão pertence a um proprietário que terceiriza o serviço com outros motoristas. Estes pagam, além de um aluguel, a manutenção e o combustível.


Alguns proprietários têm uma frota de concessões. Suspeita-se que usam laranjas, geralmente familiares, para burlar regras e ganhar diversas licenças da Prefeitura. Ótimo negócio. Afinal, a licença é valioso patrimônio e a compra de um táxi zero é livre de impostos.

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Em boa parte, o negócio é controlado pelo sindicato da categoria. Sindicato patronal, nem que seja patrão de si mesmo. A Prefeitura sempre fechou os olhos para a questão. Os taxistas têm poder de pressão e carregam fama de influenciadores de opinião pública.


No fim das contas, os cidadãos que precisavam desse tipo de transporte, essencial nas grandes cidades, eram tratados como, digamos, consumidores de segunda linha. Sem alternativas, gostando ou não, se submetiam ao que estava disponível.


Um dia, os ventos mudaram. No caso de Fortaleza, primeiro apareceu o Táxi Amigo. Um sábio e desconhecido empreendedor percebeu que os moradores dos bairros mais pobres eram desprovidos de um serviço de táxi perto de casa e com preço em conta.


Pioneiro, o Táxi Amigo funciona por telefone ou aplicativo. A qualidade dos carros é controlada pelo empreendedor, que estabeleceu critérios. O Uber veio depois. Enfim, uma senhora concorrência para o serviço de táxis licenciados pela Prefeitura.

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E o que aconteceu com os táxis tradicionais? Ora, aconteceu o que acontece quando há concorrência. Para não perder fatias do mercado, promoveram melhoras no serviço e baixaram os preços. Além disso, adaptaram-se muito bem à tecnologia dos aplicativos.


E o que aconteceu com o mercado como um todo? Simples: com preços mais baixos, melhores serviços e tecnologia que permite acesso ao roteiro da viagem em tempo real, esse mercado concorrencial ganhou milhares de clientes.


Muitos passaram a deixar seus carros em casa e usar um dos serviços nas viagens para lazer e trabalho. Descobriram a praticidade de não buscar e pagar vaga de estacionamento. Pais começaram a usar táxis para que os filhos fossem à escola e a outras atividades.


Ter carro deixou de ser algo prioritário. Na verdade, não ter carro ganhou ares de modernidade civilizada. Tudo só foi possível graças ao preço mais acessível dos táxis, úberes e afins, aliado à tecnologia que ofereceu segurança e praticidade.


E o que fez a maioria da Câmara dos Deputados? Agiu contra o povo e deu seu jeito de inviabilizar a concorrência. E o que faz a Prefeitura de Fortaleza? Persegue os serviços alternativos ao cartel dos táxis.


Bom, com a chegada do Uber, passei a deixar com frequência o carro na garagem. Como a concorrência fez com que os tradicionais táxis baixassem os preços e aderissem ao conforto e segurança dos aplicativos, voltei a optar pelos táxis. Motivo: eles têm direito às faixas exclusivas de ônibus.


No momento em que finalizo o texto, recebo no celular mensagem do 99 oferecendo uma corrida em que a ida é paga, mas a volta tem desconto de R$ 15,00. Vou nessa.

 

Adriano Nogueira

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