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Greve com desemprego é soma negativa

2017-04-29 17:00:00

A “greve geral” de sexta-feira não foi geral. Foi parcial e dependeu quase que exclusivamente dos piquetes na área de transporte. Em Fortaleza, um milhão de pessoas usam ônibus nos dias úteis. Parar o sistema, mesmo que em partes, vai sempre causar grandes transtornos, faltas e atrasos forçados ao trabalho. Pneus furados e chaves quebradas na ignição como argumento marrento. Porém, no fim das contas, o movimento ficou aquém das expectativas.

Na manhã da sexta-feira, uma notícia estampou manchetes rivalizando com a cobertura dos eventos de rua. “População desempregada atinge recorde de 14,2 milhões”. Segundo o IBGE, são cerca de 1,8 milhão de desempregados a mais do que no trimestre de outubro a dezembro, alta de 14,9% na população desocupada. Em 12 meses, 3,1 milhões de pessoas a mais sem emprego, um aumento de 27,8%. Dramático.

Convocar greves em períodos de desemprego lancinante jamais pode ser uma boa ideia. É óbvio que a preocupação maior das pessoas é se sustentar nos empregos ou arranjar um. O movimento sindical sabe bem disso, mas a convocação responde a uma agenda política, que se tornou imperiosa para o PT e as esquerdas que orbitam em torno da sigla.

Por isso, os resultados de sexta-feira precisavam ser estrondosos e grandiosos. A ideia era enfiar a estaca no peito do Drácula. No caso, o impopular Governo de Michel Temer. O sucesso inconteste fragilizaria a base do Governo e criaria imensas dificuldades para a aprovação das reformas. Feito isso, a esquerda partiria para uma tentativa de arrancada visando a disputa presidencial de 2018.

Na bolsa da política, não há jogada sem risco. O insucesso do movimento, uma greve geral meia boca e com atos de vandalismo e agressividade podem gerar efeito contrário. Ou seja, enfraquece o protagonista da greve e deixa o Palácio do Planalto menos desconfortável para seguir adiante em seus projetos de reformas. Nesse ponto, é melhor esperar o rescaldo dos fatos para se chegar a uma leitura mais conclusiva.


A HEGEMONIA DAS RUAS
Há tempos, venho apontando que a grande novidade na política brasileira é o fim da hegemonia da esquerda nas ruas. Já não é a dona do pedaço. As grandes manifestações de 2013, de geração espontânea nas redes sociais, sem líderes, sem partidos e sem entidades, já eram o prenúncio dos acontecimentos.

Em junho de 2013, milhões de pessoas em centenas de cidades foram às ruas com uma pauta difusa. Não aceitaram bandeiras de partidos. Não aceitaram camisas vermelhas ou broches tucanos. Voltaram para casa com a mesma rapidez com que haviam saído quando os atos descambaram para a violência de mascarados.

Entre 2015 e 2016, um público muito parecido com o de 2013 voltou para as ruas. Dessa vez, com uma pauta objetiva: o impeachment. Havia outra diferença: foi a vez de grupos que se declaram liberais, como o MBL e afins, assumirem o protagonismo das convocações para os maiores atos de rua da história brasileira.
 

A MASSA LIBERAL
Outra grande contribuição para desvendar os acontecimentos foi dada pelo próprio PT. Ensimesmado com a dura derrota do partido em São Paulo, com Fernando Haddad perdendo a Prefeitura ainda no primeiro turno para um outsider da política, fez-se a encomenda de uma pesquisa para entender o ocorrido.

O resumo da ópera: o cidadão da periferia paulistana, que havia votado no PT de 2002 a 2012, assimilou um pensamento oposto à pregação do partido. Ou seja, em vez de cultuar a luta de classes, assimilou os patrões como referência, acha que tanto um quanto o outro são vítimas do Estado, que suga seu dinheiro e devolve políticas públicas de qualidade inferior.

Ou seja, pregações tipo “pobres contra ricos”, “nós contra eles”, tão disseminadas nos últimos anos passou a ser rejeitada. Nasceu um liberal com crença na meritocracia, que sonha em ser um empreendedor e que aposta que a segurança jurídica expressa nas leis é o caminho do progresso.
 

O VÁCUO NÃO DURA
Em meio a tudo o que foi expresso nas linhas anteriores, formou-se um grande vácuo na política. Mas a política não deixa o vácuo durar. Alguém rapidamente o ocupa. É o que tem feito o prefeito de São Paulo, João Dória.

Ao contrário dos tucanos, que sofrem da síndrome de Estocolmo em relação ao PT, o prefeito vai para o enfrentamento e, a cada oportunidade, estabelece a diferença colocando-se como contraponto. Bom, mas a política é dinâmica. Viabilizar-se como alternativa é estrada longa e pedregosa.

No Ceará, diante das convocações de greve e ameaças de baderna, deu-se um imenso vácuo de autoridade. Nossos chefes de Executivo não se dirigiram ao distinto público para dar palavras de tranquilidade e diretrizes em caso de paralisação geral. Ficou tudo ao sabor dos acontecimentos. Creiam: é um erro político brutal.
 

ESCOLA COM PARTIDO
Sexta-feira passada, 28 de abril, foi o Dia Internacional da Educação. A data originou-se no Fórum Mundial de Educação, realizado em abril de 2000, em Dakar, no Senegal. 180 países assinaram um documento intitulado Declaração Mundial de Educação para Todos no qual se comprometiam a não poupar esforços  para que a educação chegasse a todas as pessoas do planeta até 2015.

No Brasil, nenhuma reflexão sobre o tema. Pelo contrário. Em grande parte das escolas públicas, principalmente nas capitais, não houve aulas. Algumas escolas privadas ligadas à Igreja Católica também deram sua contribuição negativa aderindo a um movimento notadamente político.

Fábio Campos

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