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Bilhões públicos para eleger deputados

2017-03-23 01:30:00

Caminha célere a articulação para que as eleições de 2018 sejam bancadas pelos pagadores de impostos através do financiamento público das campanhas eleitorais. Isso mesmo. Em meio à maior recessão da história brasileira, o povo vai pagar mais essa conta. É esta a maléfica e mais vistosa consequência da proibição das doações de empresas para as campanhas eleitorais.


A coisa toda vai além. Para viabilizar o argumento de que as campanhas devem se tornar mais baratas, a articulação vai trabalhar para que o voto do eleitor seja em listas fechadas que serão construídas e apresentadas pelos próprios partidos. Ou seja, o eleitor não vai votar em candidatos, mas sim nos partidos com suas listinhas escolhidas a dedo.


Sim, as listas partidárias serão produzidas de acordo com o desejo de suas cúpulas. É inescapável. Portanto, um acerto de quatro paredes entre os que controlam as honoráveis siglas. Não duvidem: é a forma mais segura e certa de garantir os atuais mandatos, incluindo a turma suspeita das listas de investigados na Operação Lava Jato e afins.


O relator da estrovenga é o deputado federal do PT, Vicente Cândido (SP). Vejam uma declaração do dito cujo: “Nós vamos ter que encarar o financiamento público de campanha e a lista fechada é a maneira mais barata. Com o dinheiro que você faria uma campanha para um deputado no estado de São Paulo, você faria para a chapa inteira”.


O deputado chuta para passar a ideia de que a coisa é limpinha e que está fazendo um bem danado ao País. Ora, ora. Mas, não nos enganemos. O troço é apoiado por gregos e troianos. Lá atrás, quando a turba gritava não ao financiamento privado das eleições, quase ninguém se lembrou da seguinte obviedade: não sendo privado, como será o financiamento das campanhas? Financiamento público, ora bolas. Não deu outra.

 

Demonizaram as doações de empresas. Pois é. O resultado é esse aí. O cândido deputado vai propor em seu relatório um sistema em que o financiamento das campanhas em listas partidárias seja dividido da seguinte forma: 70% de recursos públicos e 30% de contribuições de eleitores, no limite de um salário mínimo e com proibição de autofinanciamento.


Compreenderam? Claro que poucos cidadãos vão se dispor a doar para partidos fuleiros com suas listinhas fechadas. A não ser... Bom, a não ser os militantes de partidos. E quem tem militantes disponíveis para tal tarefa? Claro, a nossa gloriosa esquerda ávida por recuperar-se do desastre eleitoral de 2016. Não vai dar outra.


Quanto vai custar a mais nova jabuticaba nacional? O céu é o limite. Imaginem senhores, o custo para bancar eleições de deputados estaduais e federais na imensidão do Brasil. Vai para casa dos bilhões. Hoje, nossos queridos partidos, essas pessoas jurídicas de direito privado, já abocanham quase R$ 1 bilhão de fundo partidário.


Mas, qual seria a saída desde que o Supremo deu um salto triplo carpado e considerou inconstitucional a doação de empresas para as campanhas? Pois é. Óbvio, como já dito acima, que o caminho seria o financiamento público. No entanto, há outros caminhos a percorrer que estão sendo solenemente ignorados a favor dessa coisa que vai garantir a continuidade dos atuais donos de mandatos.


Vamos a dois caminhos já bem conhecidos. 1) cláusula de desempenho: sem alcançar determinado desempenho nacional, o partido perderá direito ao fundo, perderá influência e espaços na Câmara ou Assembleia. 2) fim das coligações proporcionais, que obriga o partido a eleger sozinho seus representantes sem os voto de outros.

 

Adriano Nogueira

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