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Almoço e jantar grátis

2017-03-25 17:00:00
É o País da boquinha. Os grupos de pressão das mais diversas faixas sociais se especializaram em abocanhar uma fatia. Até time de futebol profissional acha que tem direito a um naco do tesouro. E consegue. No Brasil, só se organizam para arrancar mais dinheiro do Estado e para conquistar ou manter privilégios. É bolsa empresário, é bolsa cultura, é bolsa esporte, é bolsa partido, é bolsa sindicato (de patrão e empregado).

A fonte de dinheiro para manter todos felizes é uma só: cidadãos e negócios produtivos. Governo não produz nada, mas suga boa parte da riqueza produzida. O butim é disputado com avidez. Óbvio que não há dinheiro para atender à multiplicação de direitos. Óbvio que vai faltar dinheiro para atender às reais demandas dos governos.

Por sua vez, os governantes são mestres em vender ilusões. Suas falas, sempre repletas de grandes bondades, prometem mundos mesmo que não haja fundos. É “o mito do Governo grátis” tão bem relatado pelo economista Paulo Rabelo de Castro em seu
livro homônimo.

Governo grátis é aquele que promete vantagens para todos, aparentemente sem custo para ninguém. Aparentemente porque, no fim, o preço a ser pago por todos é, obviamente, o desajuste das contas públicas, a desorganização das finanças e a estagnação econômica. Alguma semelhança com o que vivemos hoje? “É um governo que promete dar o que de fato não tem como entregar, tirando de quem supostamente tem.”

Vejam um exemplo de como funciona essa dinâmica: na quinta-feira passada, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), recebeu o secretário nacional de Juventude, Assis Costa Filho. Na pauta, a Ação Direta de Constitucionalidade no Supremo que questiona a concessão de passagem gratuita para “jovens de baixa renda” em ônibus interestaduais.

Entenderam? O secretário, com apoio público do senador, quer fazer valer o item de tal Estatuto da Juventude que reserva uma cota de passagens gratuitas para jovens pobres. Sim, o Estatuto é lei. E lá está escrito esta e muitas outras bondades para os ditos jovens (o Estatuto considera jovem até um marmanjo de 29 anos).

Ora, e quem paga pela bondade? O Estatuto diz que é o Governo Federal. Mas, com que fonte de custeio? Pois é. Quem se importa com esse detalhe diante de demanda tão nobre, não é? Sabem o que vai significar se a coisa ficar valendo? O preço das passagens vai aumentar e todos os usuários de ônibus, que são trabalhadores com dinheiro contado, vão pagar pela bondade dos políticos. Claro. É assim que a banda toca.

Já aqui em Fortaleza, um vereador apresenta uma proposta, que mereceu incrível destaque, dizendo que “as empresas” devem indenizar os usuários de ônibus em caso de viagens urbanas interrompidas por grevistas. Creiam! Primeiro: empresário não vai pagar. Quem paga é o preço da passagem. Segundo, o piqueteiro fura o pneu do ônibus e a empresa terá que indenizar? É sério isso? Por que não o sindicato que furou o pneu?

E assim caminhamos, senhoras e senhores. Cada um quer o seu butim de “direitos”. Ah! No fim das contas, o honorável Teodorico Menezes levou R$ 30 mil por mês de sua doce e privilegiada aposentadoria. Tudo dentro da lei? Justo, não é? Ele é apenas mais um entre tantos com tais privilégios de aposentadorias especiais. Quem vai pagar por isso? Lógico que todos os que trabalham e produzem.

A turma contra a reforma da Previdência não gosta de números, mas atentem para somente esse: hoje, a cada ano, o Estado do Ceará tira mais de R$ 1 bilhão para bancar o sistema previdenciário do Estado. É dinheiro que deveria estar sendo usado em investimentos de infraestrutura para criar mais e melhores condições de desenvolvimento para o nosso Ceará. Óbvio que esse saco sem fundo precisa ser costurado.

Fábio Campos

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