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Quem paga imposto não quer circo

2017-02-23 01:30:00

 

No O POVO on Line, a seguinte informação: “Wesley Safadão começou o ano bastante agitado... Mesmo assim, o cantor admite que a quantidade de shows diminuiu de 2015 para cá. “Graças a Deus, o ano de 2017 começou com tudo e muita procura. Mas, em tese, é um pouco natural dar uma amansada na agenda, até mesmo pelas conversas que tenho com a minha equipe, prezando cada vez mais a qualidade”.

 

É muito provável que a “amansada” na quantidade de shows não seja apenas pela busca da qualidade. Certamente tem a ver com a notória queda no volume de shows contratados pelo setor público. Isso ocorre por dois motivos. Primeiro: a crise econômica esvaziou os cofres públicos. Segundo: a inconveniência de usar dinheiro público nesses eventos.

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Uma das piores pragas que surgiram no Brasil, especialmente no Ceará, na última década foi a contratação de shows por prefeituras e governos estaduais. Dinheiro que deveria ser usado nas atividades fins do setor público, como saúde e educação, passou a ser usado para bancar festas. No Ceará, em dado momento, virou uma febre. Milhões e milhões gastos com esse lamentável desvio de finalidade. Circo sem pão.


É evidente que proliferaram a rodo esquemas de corrupção. Preços de shows superfaturados. O Governo pagava a um artista muito mais do que a iniciativa privada. O mesmo valia para a contratação de equipamentos, iluminação, palcos e segurança. Tudo controlado pelos esquemas que, claro, agem por dentro dos governos. Da noite para o dia, riquezas pessoais foram construídas.


Não havia inauguração sem show. Não havia férias sem a farra que dava ao povo mais pobre o torpor do “show grátis”. Não há show grátis. Eles são regiamente pagos pelos contribuintes que bancam impostos cada vez mais altos. Quem paga imposto (e são dezenas deles) certamente não espera ver seu dinheiro sendo usado para contratar circo para o povo. É um abuso.


A farra parou? Não. Apenas diminuiu. Não porque os nossos diletos governantes evoluíram, mas sim por causa da crise que tornou proibitivo bancar esses eventos. Chamaria demais a atenção.


Independentemente da situação financeira dos cofres, é preciso que a sociedade passe a não tolerar esse tipo de contratação. Ela desvia recursos de quem mais precisa. É imoral. Não é cultura. É show business que deveria viver apenas do mercado, mas enche as burras com o dinheiro fácil, fácil do contribuinte.


A Prefeitura de Fortaleza ainda mantém o Réveillon. É urgente mudar o formato daquele evento que vara a madrugada e gera caos no entorno da mais preciosa joia da cidade (a Beira-Mar da Praia de Iracema). O mesmo vale para o Carnaval da cidade. É sim possível ter uma festa sem que o setor público banque a contratação de artistas nacionais.


Sustenta-se que a contratação de grandes shows para essas festas alimenta a economia da cidade. Será? Então, que se apresentem respeitáveis estudos comprovando essa tese, que considero furada. Já pagamos preços altíssimos por decisões tomadas com base no “achismo” e no “instinto” de governantes.


Temos vários exemplos de decisões erradas disponíveis na cidade. Todas adotadas sem estudos prévios de demanda, de localização e sem as obrigatórias projeções econômicas. Invariavelmente, todas custaram os olhos da cara. E Pior: reverter o erro sairá ainda mais caro. O glorioso Acquario é um dos símbolos dessa trágica equação onde o bom senso e a austeridade são qualidades dispensadas.

 

Adriano Nogueira

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