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O sonho acalentado por Eunício

2017-02-02 01:30:00
 

Eunício Oliveira (PMDB) na presidência do Senado Federal em um dos momentos mais difíceis da história republicana brasileira. O senador terá complexas tarefas pela frente em um País que descobriu a duras penas que precisa fazer urgentes reformas para sair da dramática crise econômica em que se encontra.


Como nunca antes em nossa história, a crise na economia se entrelaça com a crise na política. Uma alimenta e se alimenta da outra. A crise política não depende da vontade dos políticos, mas sim da dinâmica investigativa da força tarefa formada por procuradores, policiais federais e juízes que estão à frente da Operação Lava Jato.

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O próprio senador Eunício Oliveira é um dos citados em delações e, muito provavelmente, terá que pronunciar boas respostas às acusações. Pior se as respostas tiverem de ser proferidas no âmbito da Justiça. Até aqui, diga-se, não há nada que impeça o direito do senador exercer com plenitude as prerrogativas de presidente do Senado.


Após 26 anos, um cearense volta a comandar a Casa. O Ceará só produziu dois dos 68 homens que, mesmo provisoriamente, já presidiram o Senado, instituição com 193 anos de existência nascida ainda no Império. O veterano Mauro Benevides foi o primeiro, quando eleito presidente da Casa em 1991.


Segundo na linha sucessória, Eunício vai comandar um trabalhoso Senado com composição diluída entre mais de 15 partidos. Porém, vigora na Casa uma base política que se mostrou coesa no apoio ao presidente Michel Temer. Junto com o PSDB, o PMDB forma uma base de mais de 30 senadores.

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No plenário, o controle da pauta política e a força da articulação vão se manter nas mãos do senador Renan Calheiros, que passa a ser o líder do PMDB. É nesse ponto que o processo político pode ficar confuso. Afinal, Calheiros é alvo de quase uma dezena de acusações formais no âmbito do Supremo. Ou seja, uma só lufada de vento na conjuntura desmonta o quadro que se estabeleceu na Casa.


Nunca ninguém ouviu da boca de Eunício Oliveira que seu sonho era presidir o Senado. Porém, as circunstâncias políticas o levaram para o cargo. Entre as quais, a ascensão do PMDB como partido do presidente da República, a proximidade de Eunício com a cúpula da sigla, a liderança do PMDB exercida no Senado e, primordialmente, a relação de amizade com Calheiros, o
mandachuva na Casa.


Porém, muitos interlocutores já ouviram da boca de Eunício que seu sonho é se tornar governador do Ceará. Sim, o rapaz pobre que saiu da pequena Lavras da Mangabeira para se tornar um milionário com negócios que mantêm forte relação com os poderes políticos nutre com ardor o desejo de sentar-se na principal cadeira do Palácio da Abolição.


É evidente que o cargo de presidente do Senado ajuda. E muito. É poder. Poder e influência. Aos 64 anos, Eunício vai chegar à campanha para governador no ápice dos 66. Experiente, o senador sabe que muito provavelmente será sua última chance de concretizar o velho e acalantado sonho.


Caso não seja atingido pela artilharia da Lava Jato e afins, a conjuntura de 2018 pode ser mais generosa com Eunício do que foi a de 2016. Há a possibilidade de, em dois anos, o Brasil estar em franco processo de crescimento econômico. Sendo o senador o natural herdeiro de alguma popularidade advinda desse contexto. Ou não.

 

Adriano Nogueira

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