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Onde está a cura para Alzheimer?

2017-02-04 17:00:00
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Em novembro de 2016, médicos e pesquisadores do mundo todo voltaram sua atenção para a cidade americana de Indianápolis, onde foi divulgada a conclusão do aguardado ensaio clínico “Expedition 3”. O médico neurologista Glauber Ferreira, da Clínica da Memória, explica que trata-se do resultado final dos testes com a droga Solanezumab, a substância mais promissora a ser testada no tratamento da doença de Alzheimer, um mal que atinge milhões de pessoas no mundo todo. Infelizmente o medicamento não se mostrou superior ao placebo, e entrou para a longa lista de substâncias que falharam em deter, ou mesmo amenizar, a progressão da demência, relata o neurologista.

Essa decepção mais recente ilustra as dificuldades com que pesquisadores têm se deparado nos últimos anos em criar estratégias para deter o avanço da demência de Alzheimer. De fato, 99% de todas as substâncias já testadas falharam em mostrar qualquer resultado significativo. O último medicamento aprovado para o tratamento da doença data de 2003, e desde então nada de relevante surgiu no mercado. São mais de dez anos sem novidades. Glauber relata que hoje nós dispomos somente de três medicamentos (todos disponíveis no Brasil) para o tratamento do Alzheimer. Nenhum deles alivia de forma consistente os sintomas da doença ou retardam a evolução do problema. Não podemos dizer que esse cenário se fez por falta de investimento em pesquisa. Só no desenvolvimento do Solanezumab, o fracasso supracitado, foram gastos mais de um bilhão de dólares desembolsados pela empresa dona da patente da substância, a Eli Lilly. O governo americano gastou o mesmo montante em 2016 em financiamento de estudos da cura da doença, um incremento de U$ 350 milhões em relação ao ano anterior. Mas, apesar dos resultados desanimadores, e revezes financeiros, muito se aprendeu nesses últimos dez anos, o que leva cientistas a crerem que estamos próximos, talvez não de uma cura, mas de uma forma de deter o avanço da demência, analisa o neurologista.

Uma das conclusões mais importantes desses anos de pesquisa foi a noção de que a doença de Alzheimer começa anos e até décadas antes do surgimento de qualquer sintoma. Segundo o especialista da Clínica da Memória, sabe-se hoje que o acúmulo da proteína amiloide, a substância presente em cérebros de pessoas com Alzheimer, começa 10 a 15 anos antes da perda de memória característica da doença. É bem possível que o fracasso no tratamento se deva ao fato de estarmos iniciando o tratamento tarde demais. Novas estratégias têm sido boladas no sentido de criar métodos de detectar anormalidades bem mais cedo de modo a intervir precocemente e alterar o curso da doença. Ensaios clínicos têm recrutado voluntários em fases cada vez mais iniciais da doença.

Outros estudos têm concentrado esforços em pessoas na fase prodrômica, aquela em que ainda não há qualquer sintoma, mas que já apresentam alterações detectáveis em modernos exames de imagem do cérebro e de análise do líquor (o líquido que banha o cérebro).

Atualmente existem 77 drogas em desenvolvimento no Estados Unidos para a doença. Uma das mais promissoras é o Aducanumab, que se propõe a deter o acúmulo da proteína amiloide no cérebro. Apesar de muito parecido com Solanezumab, seus resultados têm se mostrado bem mais promissores. Estudos de fase 1 mostraram retardo na declínio cognitivo de pessoas com Alzheimer e é possível que em alguns anos tenhamos um medicamento comercialmente disponível realmente eficaz. Outros esforços têm sido no sentido de testar drogas já disponíveis no mercado, como aquelas usadas no tratamento do diabetes e do câncer, na busca de alguma utilidade no tratamento do Alzheimer. Segundo a chefe do departamento de envelhecimento do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, Dra. Laurie Ryan, o mais provável é que não haja uma “bala mágica” capaz de eliminar a doença, mas um conjunto de estratégias customizados para cada caso.

No campo da prevenção, o avanço mais significativo foi a comprovação da eficácia de diversas estratégias não farmacológicas. Provou-se que atitudes simples, como exercícios físicos regulares, uma boa alimentação e estímulos intelectuais ao longo da vida podem reduzir drasticamente o risco de demência, orienta o neurologista Glauber Ferreira. Um dos estudos mais ilustrativos dessas recomendações é o “Finger Study”, conduzido na Finlândia, onde reduziu-se drasticamente a incidência do Alzheimer a se aplicar hábitos de vida saudável a uma grande amostra populacional. Essas estratégias já são amplamente prescritas por cardiologistas, o que gera o adágio de que “o que é bom para o coração também é bom para o cérebro”.

Em dezembro de 2016, ao apagar das luzes do governo Obama, foi promulgada a lei chamada de “21 Century Cures Act “ que destina U$3 bilhões de dólares ao longo dos próximos dez anos para a busca da cura da demência de Alzheimer.

Esses recursos foram uma injeção de ânimo nos pesquisadores da doença. A maioria deles acredita que, depois de anos de pesquisa e revezes, estamos na iminência de uma descoberta verdadeiramente significativa no tratamento da doença. Parece finalmente que há razões para o otimismo, finaliza o médico.

Adriano Nogueira

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