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Fausto Nilo e Águeda Muniz

17:00 | 08/07/2017
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Tenho 50 anos de Fortaleza. Do tempo em que comecei a olhar a Cidade com outros olhos, me encanto e desencanto com alguns movimentos de reconstrução dela. Desde menino no Porangabuçu, morei ou vivi em 11 endereços entre sete bairros.

Porangabuçu, Damas, Centro, Maraponga, Castelão, Praia de Iracema e Aldeota. E partir deles, a necessidade ou vontade de me deslocar por milhares de travessias. Nos fuscas de meu pai, a pé, em ônibus, trem, de bicicleta, de carro próprio e, novamente, a pé.

E se eu fosse definir a predileção por um meio para atravessar os caminhos, diria que sou do “pé dois”. Não fossem a violência urbana, sem controle, e a falta de corredores de árvores para sombrear, seria mais andarilho. Apesar, também, das calçadas pebas.

Dos desencantos, um é passar por bairros ou ruas que nunca tiveram viço e permanecem assim. Ou perderam o que tinham. O corredor da Francisco Sá, onde havia uma cadeia de indústrias, por exemplo, é desolador. O abandono e a reocupação pela lógica do tráfico de drogas e derivados são de doer.

Aliás, a insegurança urbana (e a miséria) nos últimos 25 anos talvez tenha sido a principal influenciadora do modo de reocupação e deslocamento das pessoas em vários itinerários de Fortaleza.

Principalmente na aldeia (periferia), mas no miolo rico (o castelo) também. Na falta suficiente do poder público, os traficantes se aproveitaram para contribuir com o redesenho da cartografia e dos percursos.

Por falar em redesenho da Cidade, uma conversa com o vereador Guilherme Sampaio (PT) me lembrou de que a especulação imobiliária também é determinante para o “reesquadrinho” insustentável de Fortaleza. Sim.

Notadamente no castelo e entorno, onde está o filé mignon do metro quadrado mais caro de Fortaleza. A picanha especial com corte certeiro que, entre os dentes, se desmancha ao ponto.

E é para a Câmara Municipal que os olhos têm de focar em agosto, na volta do recesso parlamentar. Melhor dizendo, até o mês que vem, quem não quiser Fortaleza servida apenas para a especulação imobiliária terá de se movimentar a partir de ontem.

Intrigante o prefeito Roberto Cláudio (PDT) investir milhões no Fortaleza 2040 e permitir que sua base aliada empurre, de uma vez só, 68 emendas à Lei de Uso e Ocupação do Solo sem dialogar com um planejamento proposto pela equipe de Fausto Nilo. Estranho. Para ser votada, no pau, na peinha de começar as férias dos vereadores.

68 emendas sem discussão ou no faz de conta do debate para passar e, talvez, ninguém perceber o que está sendo aprovado. Quem dos vereadores sabe, de verdade, a mudança proposta no território de Fortaleza? E quem dos movimentos sociais?

Uma das emendas, para exemplificar, trata da alteração de 25 mapas na Cidade. E aí? Pode até ser uma readequação besta, mas conhecendo os interesses... A votação foi adiada para agosto.

Quer ver outro nó? Existe uma Comissão Permanente na Câmara para analisar “projetos especiais” que não se enquadram no Plano Diretor. Esse organismo, desde a gestão Luizianne Lins (PT) e a atual, deveria ter se transformado em um Conselho Municipal participativo. Até agora, necas.

Por isso, talvez, movimentos desconfiáveis. Como a alteração, por exemplo, da taxa de ocupação do solo que, em vários casos, dobrou ou triplicou. Poderia ser modificada? Sim, mas nesse volume a Cidade se sustenta?

E altura dos prédios? Também sem discussão transparente com a Cidade, se aprovou um arranha-céu de 150 metros nas proximidades do riacho Maceió. Usou-se a Outorga Onerosa. Instrumento legal, mas que pode estar sendo usado de forma abusiva ao Plano Diretor. Abriu-se a porteira.

A impressão que tenho é que há uma queda de braço nas entranhas da Prefeitura quando o assunto é planejamento e redesenho urbano. E isso se materializa, principalmente, na Câmara.

O Plano Mestre do Fortaleza 2040 é uma coisa, a Seuma seguiria outro caminho e os vereadores se movimentariam dependendo de outros critérios. Uma esquizofrenia - para não dizer outra coisa.

Daria tudo para saber quantas vezes Fausto Nilo e Águeda Muniz se sentaram e discutiram, com consequências para a Cidade, a elaboração do Plano Mestre do Fortaleza 2040. Pelo visto, nunca cruzaram os trajetos...

 

DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO demitri@opovo.com.br

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