PUBLICIDADE
Notícias

E-mail sobre Márcia Maia

17:00 | 22/07/2017
NULL
NULL

[FOTO1]
Conheci muito, em 1997. Escreve-me o jornalista Gilmar de Carvalho sobre Márcia Maia ou Márcia Mendonça. Quis saber da artista de obras sacras da igreja do Coração de Jesus. Uma história que Fortaleza me seduz. E aqui, confesso, mais pelo jeito que ela decidiu atravessar a existência.

Pelo enredo sacro e marginal da pintora nascida homem no Ceará.

Seminarista capuchinho e, depois, se operou mulher. De vagina e tudo e a devoção pela igreja católica.

Márcia era de Limoeiro do Norte e entrou para os Capuchinhos como Irmão da Ordem Terceira. Por lá, conta-me Gilmar, deixou vários trabalhos na cidade. Como uma estátua de Dom Aureliano Matos, primeiro bispo dali.

Aqui, em Fortaleza, começou a pintar sem parar. Fez painéis do Coração de Jesus, do convento que fica defronte à Igreja, do Seminário da Porciúncula (Messejana) e do Convento da Gruta, em Guaramiranga.

Além dos pincéis, cantava no coro dos Capuchinhos. E ali também deve ter provado da história da arte, estilos, técnicas, mestres. E, tempos depois, faria Belas Artes em Recife.

Talvez por retribuição - ou uma culpa judaico cristã pelo que assumiu ser -, pintou cuzquenhos e quadros sacros. Mas também havia buquês flamengos e em 1971 ou 72, quando ainda assinava Márcio, participou do Salão de Abril.

Entrou em crise e foi para a Europa. Pintou uma boite em Colônia e trabalhou como profissional do sexo no Bois de Boulogne, em Paris.

Decidiu fazer uma cirurgia de mudança de sexo e riscou para a Indonésia, mas não deu certo. Acabou por se operar em Jundiaí, em São Paulo, e lá teria descoberto o HIV no corpo.

E aí, voltou. Frei Domingues, capuchinho, então prior do Convento da Gruta, a acolheu na serra. Márcia ainda faria uma beata no Milagre em Juazeiro, filme de Wolney Oliveira.

Gilmar me conta de uma casa no Eusébio, com uma capela, onde Márcia recebia algumas senhoras para chás e vender quadros. Eram dondocas sem muito glamour e Lúcio Brasileiro a entrevistou na tevê.

Em 1999, faleceu. É uma película de Almodóvar e sua pintura, pelo mundo, lhe garantiu a eternidade.

TAGS