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Parentesco bom para o bolso

2017-06-13 01:30:00

As fábricas de automóveis fazem o possível para tampar o sol com a peneira e evitar que os donos de seus modelos ou oficinas independentes percebam a intercambiabilidade entre peças de reposição. Inventam mil artifícios para dificultar que se identifique uma peça de reposição comum a dois ou mais modelos, pois não querem perder este faturamento, bem mais rentável que o do próprio automóvel.


Colecionadores de automóveis são experientes nesta busca atrás de similaridades de peças. Dois modelos – completamente distintos - produzidos na Alemanha numa mesma década podem ter muitos componentes semelhantes. Acredite se quiser, distribuidores da VW Kombi e do BMW 2002 da década de 1960 eram rigorosamente iguais. Fácil de entender: quem fornecia para as duas fábricas era a Bosch. Mais barato produzir a mesma peça do que desenvolver dois projetos diferentes. Quem tem um automóvel Mercedes Benz clássico, da década de 1970, por exemplo, pode procurar numa concessionária de caminhões da marca, no Brasil, o cilindro mestre da embreagem hidráulica do “608”. A única diferença está no preço: o do caminhão, produzido aqui, custa cerca de dez vezes menos que o importado da Alemanha...


Entre dois antigos nacionais, a probabilidade de semelhança é ainda maior. Freios a disco do esportivo Puma DKW tinham mesmos componentes do Chevrolet Chevette. E vai por aí...


Conhecer o “parentesco” entre automóveis pode resolver problemas de falta de peças no mercado ou reduzir o custo de aquisição. São muitos os exemplos, todos resultantes da compra, fusão ou parceria entre grandes empresas da indústria automobilística. Quanto mais disputado o mercado, mais elevados os custos para fabricar um carro. Lançar um novo modelo representa investimentos de centenas de milhões de dólares e se o volume de vendas não bater com as previsões, o prejuízo é certo. Modelos “irmãos” ou “primos” diluem o custo do projeto e da própria fabricação dos modelos.


Várias empresas do setor possuem diversas marcas que competem como concorrentes no mercado sem que o consumidor perceba. Na França, por exemplo, Peugeot e Citroën pertencem à PSA. Que tem fábrica no Brasil e segue aqui a mesma estratégia: são concorrentes e seus modelos, apesar do design diferente, compartilham componentes mecânicos para reduzir custos. Exatamente como Hyundai e Kia na Coréia do Sul. A Fiat virou Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e divide plataformas entre modelos Fiat, Lancia, Alfa, Dodge, Jeep e Chrysler.


O grupo VW tem mais de dez marcas, várias compartilhando mecânica: Volks, Audi, Seat e Skoda, por exemplo. A BMW detém outras duas, Mini e Rolls Royce.


Mas existem também parcerias específicas. O custo para desenvolver um motor não é menor que o de um automóvel e fica também na casa das centenas de milhões de dólares. As empresas não divulgam, mas o mesmo motor pode equipar marcas distintas. Como o THP 1.6 da PSA, desenvolvido em conjunto com a BMW. Na prática, depara-se com ele ao levantar os capôs de Citroën, Peugeot, BMW e Mini.


Antigas parcerias podem também resultar em compartilhamento mecânico de marcas que já dissolveram a sociedade. Mas as semelhanças permanecem e às vezes de descobre o inusitado: Ford Focus e Volvo V-40 dividem muitos componentes, pois a Ford foi proprietária da marca sueca no passado e desenvolveu plataformas comuns para ambos os modelos.


Para o consumidor, é conveniente ter conhecimento destas parcerias pois a peça de reposição em falta numa concessionária pode estar na prateleira da “prima”. Além disso, tem também a redução do custo: é possível comprar um componente do Focus no Brasil para a reposição do Volvo V-40, por menos da metade da tabela do sueco. Componentes do VW Golf custam menos que os do Audi A3, ambos fabricados no Paraná e com plataformas semelhantes. Uma peça para o motor THP de um Citroën ou Peugeot custa muito menos que o do Mini Cooper, importado da Alemanha. As carrocerias de Kia e Hyundai não tem nada em comum, mas suas mecânicas são rigorosamente idênticas.


Adriano Nogueira

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