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Combinou com os russos?

2017-06-20 01:30:00

São tantas picaretagens e empurroterapias nas oficinas, casas de peças, postos e concessionárias que o dono do carro acaba sem saber o que deve ou não autorizar diante de um orçamento sujeito a controvérsias...


Esta coluna já mencionou diversas vezes a famosa ‘limpeza de bicos injetores”. É pi-ca-re-ta-gem? Pode ser que seja: se o motor não tem nenhum problema de funcionamento, se o custo foi incluído sem que ninguém na oficina tenha sequer ligado o carro, apenas a título de “prevenção”, é “empurroterapia”. Por outro lado, mesmo que seu funcionamento esteja irregular, o problema pode não estar necessariamente nos bicos, mas em velas, bobinas, cabos, sensores da central eletrônica, etc.


A limpeza dos bicos ficou tão “manjada” que algumas oficinas inventaram outra descrição para dissimular o engodo: a nova nomenclatura é “limpeza do sistema de injeção” que compreende o corpo da borboleta (ou TBI) e... os bicos! Existem outras ainda mais criativas que sugerem até a limpeza do tanque de combustível! Imagina-se qualquer coisa para faturar desnecessariamente, aproveitando-se da falta de conhecimento técnico do motorista. Mecânicos que tentam faturar sem maiores preocupações éticas recorrem também à tal descarbonização do motor. Esteja o motor carbonizado ou não.


Empurroterapia é discutível e complexa de se comprovar tecnicamente. Até porque, há situações em que se justifica o reparo sugerido pela oficina. Entretanto algumas outras justificam... chamar a polícia!


Leitor da coluna enviou orçamento da oficina de uma concessionária VW de São Paulo. O carro foi levado para revisão periódica e o valor orçado bem superior ao previsto pela fábrica. O dono do carro resolveu analisar os itens e, bingo!.... estava lá a tal limpeza de bicos injetores. Mas, se este era discutível, tinha outro que não deixava margem a dúvidas quanto à desonestidade da empresa: “Limpeza da sonda lambda”.


Ora, esta sonda fica no escapamento do automóvel, encarregada de verificar se o catalisador está reduzindo a nocividade dos gases do escapamento. Mas é blindada e rigorosamente impossível de se fazer qualquer tipo de limpeza interna. A oficina estava – em tese - cobrando para passar um paninho em sua cápsula metálica...


Outro dia, o diretor comercial de uma fábrica anunciava para a imprensa um novo plano de manutenção que custaria exatos R$ 1 por dia. Uma maneira simpática de comunicar ao interessado em adquirir os modelos da marca de que as revisões anuais custariam R$ 365,00.


E explicou para os jornalistas que sua equipe tinha elaborado cuidadosamente a relação de itens a serem verificados em cada revisão, os fluidos a serem substituídos, além das peças e mão de obra necessárias para deixar o carro em ponto de bala. Toda a rede de concessionárias da marca foi informada da promoção. O principal objetivo seria atrair mais clientes para o show-room, tranquilizando-os por afastar o fantasma do elevado custo de manutenção. Além de criar uma fidelização à oficina, pois o custo reduzido e pré-fixado da revisão era um estímulo para que os carros não fossem levados para manutenção fora da rede.


Algum tempo depois eu me encontrei casualmente com o diretor e perguntei se ele tinha se lembrado de combinar aquela promoção das revisões com os russos. Como ele não é brasileiro, não entendeu a brincadeira da pergunta que Garrincha fez ao técnico Vicente Feola, que dava instruções de como driblar os russos num jogo da copa de 1958.


Comentei com ele que, passando dias depois da tal entrevista numa concessionária da marca, vi um quadro afixado na parede da oficina com a seguinte tabela: Revisão Standard: R$ 365,00. Revisão VIP: R$ 650,00. Revisão Super: R$ 990,00. O recepcionista (eu me fiz passar por dono de um carro da marca) me explicou detalhadamente que, para a tranquilidade do cliente, o gerente o instruiu para sugerir a “Revisão Super”, que incluía toda a empurroterapia do mundo... e, que ele seria, claro, comissionado caso convencesse o cliente.


Adriano Nogueira

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