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Chikungunya: a doença que fica e incapacita
Ciência e Saúde

Chikungunya: a doença que fica e incapacita

Na fase crônica da doença, depois de três meses de sintomas, o vírus da chikungunya escolhe "santuários" nas articulações e causa inflamações que vêm e voltam e se tornam incômodo duradouro
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A doença incapacita. Faz inchar, traz dores, interfere em membros essenciais ao cotidiano. A febre chikungunya chegou ao Ceará em 2014 e ainda pouco se sabe sobre ela. Para os milhares de acometidos, as buscas pela melhoria é contínua, mesmo quando o quadro agudo tem fim. São meses, talvez anos, com sintomas que vão e voltam. Uma incógnita para especialistas, um martírio para pacientes.

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Três fases são consideradas: aguda, com duração média de sete dias; subaguda, com duração entre, aproximadamente, 14 dias e três meses; e crônica, quando os sintomas perduram para além dos 90 dias. Mãos, pés, ombros, dedos, a dor pode chegar a qualquer articulação, mas esses são os membros preferidos. “A maioria dos pacientes tem dor articular, artralgia, e um percentual tem artrite, que é a inflamação. Essa inflamação pode se estender também para os tendões, fazendo as tendinites”, afirma a reumatologista Cláudia Marques, que coordena o Estudo Multicêntrico Coorte ChikBrasil, que obtém dados sobre a doença em quatro cidades nordestinas (Fortaleza, João Pessoa, Recife e Aracaju).


A chikungunya

Uma arbovirose, transmitida por um inseto (o Aedes aegypti), que se tornou uma doença reumatológica. O vírus, na verdade, se replica nas células do organismo por apenas uma semana. Depois, se aloja em “santuários” celulares, o que provoca a reação inflamatória persistente. E ainda há o risco de o vírus se tornar um gatilho para que doenças autoimunes reumatológicas se manifestem. Anticorpos produzidos para combater o vírus podem levar a esses processos inflamatórios. “A pessoa já possui um background genético que predispõe e o vírus desperta”, acrescenta a infectologista Tânia Coelho. Conforme os especialistas, explicação para tanta e repetidas dores está na localização do vírus. Os “santuários” escolhidos ficam nas articulações, mais precisamente no líquido responsável por hidratar a cartilagem e possibilitar que haja movimento nas juntas, chamado sinóvia. Pelo menos é a hipótese mais provável, garantem os estudiosos. “O vírus tem uma afinidade com os tecidos que possuem fibroblastos, que é um tipo de célula. Há fibroblastos na sinóvia, no músculo, no sistema nervoso e nos vasos sanguíneos, principalmente na parte linfática”, dialoga a médica Cláudia Marques.

 

O vírus que causa a chikungunya tem o que o infectologista Afonso Ivo chama de “alta taxa de ataque”, ou seja, grande parte das pessoas acometidas desenvolvem sintomas, na maioria das vezes de forma dolorosa. “Zika tem uma taxa de 20% de acometimento (de sintomas). Dengue é de 35% a 50%; com chikungunya, tem trabalho mostrando que é até 95%, que o vírus entra na corrente sanguínea e se adoece”, explica o médico.


Fato é: a chikungunya mudou a rotina, os hábitos, as necessidades. São pelo menos 54.096 casos confirmados no Ceará neste ano. Muita gente se pergunta como um mosquito tão pequeno pode causar tanta dor, tanta incapacidade. Neste segundo semestre, com menos chuvas, há também um arrefecimento dos casos da doença. Mas, infelizmente, milhares de pessoas estarão se descobrindo na fase crônica da doença, há mais de 90 dias sentindo dor. O Ciência & Saúde tenta entender porque uma arbovirose recém-chegada tornou-se tão perigosa.

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