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Vida com autismo
Ciência e Saúde

Vida com autismo

Diagnosticar precocemente o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é fundamental para que um desenvolvimento sadio
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Longe dos estereótipos de distanciamento ou falta de afeto, os gêmeos Gustavo e Daniel, de seis anos, têm o abraço como principal meio de expressão. Os meninos, filhos da professora Fernanda Cavalieri, 38, foram diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos dois e têm uma vida feliz, uma série de superações e uma família que escolheu o carinho como principal rede de apoio.


“Os meninos gostam de brincar, de correr, de tudo o que crianças de seis anos gostam. A importância da inclusão é entender que as pessoas são muito mais que autistas, são indivíduos com seus gostos, suas vontades, suas memórias”, afirma Fernanda, que também é presidente da Associação Fortaleza Azul, que promove rede de apoio para pessoas com autismo.

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Ela conta que os primeiros sinais surgiram quando os gêmeos ainda tinham pouco mais de um ano. A palminha e o tchauzinho sumiram e os comandos começaram a ser ignorados. “Comecei a observar e a buscar ajuda profissional.

Com um ano e meio comecei algumas terapias, com dois anos eles foram diagnosticados”, lembra.


De acordo com o neuropediatra Sávio Caldas, o autismo é uma condição neurobiológica de ordem genética que configura um atraso no desenvolvimento da comunicação social. Ele diz não haver certeza acerca de algum marcador bioquímico do transtorno, que tem diagnóstico exclusivamente clínico, baseado em comportamento, características e histórico da pessoa.


O profissional explica que entre os principais desafios do diagnóstico está a observação precoce no ambiente familiar. Algumas características podem ser indicativas. “Comportamentos como baixa interação, brincadeira monótona, falta de fixação no olhar, intolerância a barulho ou corte de unha, por exemplo, devem ser observados”, lista. De acordo com ele, diante de quadros como esses, os pais devem buscar acompanhamento profissional para avaliação.


Diagnóstico precoce

Quanto mais cedo for diagnosticado, maior a possibilidade de respostas aos estímulos com pessoas autistas. Para a terapeuta ocupacional Sabrina Ibiapina, o diagnóstico precoce pode ser fundamental na garantia de desenvolvimento e autonomia. “Existe algo chamado neuroplasticidade (capacidade de mudança e adaptação do sistema nervoso). Ela tem o máximo de velocidade nos três primeiros anos de vida, quanto mais cedo a criança iniciar uma terapia, mais rapidamente a gente vai conseguir ter resultados desses estímulos”, explica.


Nem sempre é simples perceber sinais de alteração na cognição de uma criança.

Para Sávio Caldas, o importante é ter abertura para a observação. “A maior resistência dos pais é de aceitarem que o filho que foi desejado, que foi projetado para ser uma criança saudável, tenha uma limitação no desenvolvimento, acham que é uma fase e sempre procuram justificativas”, afirma.


Mesmo diante de muitas barreiras sociais a serem superadas, o neuropediatra ressalta que há mudança das pessoas em relação ao TEA. Para ele, é preciso acabar com o estigma do autismo como sentença de morte ou impossibilidade de desenvolvimento. “Existem diversos autistas de alto funcionamento, que desenvolvem grandes trabalhos. De maneira geral, nos últimos anos o trabalho das famílias tem diminuído esse impacto, as escolas têm se aberto mais para inclusão, que acontece não só no nível orgânico, mas físico, social e humanístico”, diz.


De acordo com Fernanda Cavalieri, os desafios são singulares, assim como a particularidade de cada pessoa, diagnosticada com autismo ou não. “A gente tem a oportunidade de crescer enquanto pessoa. Claro que é um desafio diário. Tem a questão física, qualquer passeio tem que se preparar com a energia que eles têm. Tem a questão financeira, terapias... Mas eu não acho que nossa vida seria diferente para melhor se eles não fossem autistas, apenas seria diferente”, conclui a mãe.


Neste mês da conscientização sobre o autismo, o Ciência & Saúde discute os avanços na legislação, das terapias e acompanhamentos, além de histórias de inclusão, autonomia e vida com autismo.

 

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