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Preservação da caatinga depende de mudança de hábitos
Ciência e Saúde

Preservação da caatinga depende de mudança de hábitos

Na comunidade de Bueno, em Irauçuba, ainda são poucos os agricultores que sabem como plantar sem degradar. Quem sabe diz que sobreviver mesmo sem chuvas é o melhor resultado
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Chegar à comunidade de Bueno não é rápido. O distrito fica a cerca de 15 quilômetros da sede de Irauçuba. Lá, se vive da caatinga. E é preciso aprender a cuidar dela para que o futuro não seja desastroso — dentro e fora da propriedade. Ser consciente de que a sustentabilidade e a quebra de saberes ancestrais, praticados historicamente, farão a diferença. O quintal do agricultor Antônio Braga Mota, 46, já é um exemplo dessa nova caatinga.


“Eu tento mudar a mentalidade e fiz um roçado ecológico. Antes eu queimava o solo para botar uma ou duas culturas. Hoje boto tudo que pode dar”, diz.


Algumas técnicas que visam a preservação são o manejo da cultura, para que a área permaneça com cobertura mínima de solo, plantio em nível, cordões de pedra que funcionem como barragens e retenham os sedimentos (dificultando a erosão) e o não superpastejo (número excessivo de animais em relação à forragem existente) dos animais. Antônio faz tudo isso. E mais.

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“Ainda somos muito dependentes da chuva, mas tem a acerola que dá com pouca chuva, o algodão, que eu colho e dou para alguns animais… Com a seca a gente até se desmotiva, mas sabe que se não for dessa forma, preservando, não dá jeito”, pondera o agricultor. Orgulhoso, ele mostra os arbustos amarrados há dois anos e que já já serão adubo; os pés de palma forrageira, que são alimento para os animais; o capim que não deixa o solo morrer e a horta das mais variadas frutas e hortaliças.


Mas o processo que tenta diminuir a degradação exige paciência. É o mais difícil para quem precisa sobreviver do que planta, ainda mais em anos seguidos de seca. Há quatro anos, Antônio também plantava na serra, num roçado quase vertical. Os olhos d’água que a montanha rochosa tinha acabaram com as plantações seguidas. “Tá ficando bem recuperado. Mas é difícil, porque dá um pouco mais de trabalho também”, resume.


Detalhando as características da vegetação que se via embaixo da serra, Antônio aponta para as plantas de raízes profundas, que vão em busca de água, como a jurema, o pau branco e o sabiá. “A planta também se protege. O bufungo, no verão, solta folhas, que depois viram adubo para ele e fazem cobertura no solo, protegendo outras plantas dos efeitos do sol”, explica. A agroecologia chegou ao interior de Irauçuba. É disseminada por quem acredita. E poderá ser a única forma de não vermos a caatinga se acabar. (Sara Oliveira)

 

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