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Caatinga é sistema sensível e resiliente
Ciência e Saúde

Caatinga é sistema sensível e resiliente

A degradação do solo afeta o processo natural de sobrevivência da vegetação
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A partir da transmissão de satélites, a Nasa comparou imagens do mundo inteiro nos últimos 14 anos, analisando índices de vegetação. De acordo com artigo na revista Nature, com base nas variáveis de temperatura do ar, disponibilidade de água e cobertura de nuvens, condições essenciais à fotossíntese e o crescimento vegetal. Entre biomas como as florestas boreais e a tundra ártica, a caatinga é dos mais sensíveis às mudanças climáticas. Isso foi comprovado com o índice de sensibilidade da vegetação e mostra que, mesmo resiliente, o sistema catingueiro está cada dia mais sensível à variabilidade ambiental.


No Ceará, são cinco anos de seca, que contribuíram para que a caatinga sofresse mais do que costuma ser visto. “Tanto degradou mais o solo como a vegetação. Aumentando esses ciclos de secas, fatalmente chegarão outros que já pegarão um ambiente despreparado, degradado. A gente precisa se preparar melhor para as mudanças que já estão postas”, afirma Margareth Carvalho, gerente do Departamento de Recursos Ambientais da Funceme.

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Conforme ela, nos últimos anos, muita vegetação de espécies nativas tem morrido, mesmo aquela que já é acostumada com a falta de água. “As plantas da caatinga podem ser separadas em três grupos: as que evitam a desidratação, as que toleram a desidratação e, numa primeira chuva, já se recuperam; e aquelas que utilizam apenas o período das chuvas para se desenvolver”, pontua o pesquisador da Embrapa Semiárido, Saulo de Darso Aidar. São estratégias de sobrevivências de plantas como a maniçoba, a catingueira, o mandacaru, a suculenta, as cactáceas.


“Tecnicamente, quando vem uma seca dessas, temos o que chamamos de pressão por seleção, um indutor de seleção. Ela impõe aos organismos vivos um regime de limitações, que faz com que haja seleção de quem consegue se adaptar”, explicou o agrônomo e professor do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (IFCE), Rodrigo Gregório. Num ambiente onde a vegetação crescerá menos e, por consequência, os animais terão menos alimentos, a produção agropecuária será menor e um outro fator entra em cena: a necessidade de suprir as demandas humanas, que se intensificarão.


Solo

Essa combinação de fatores, conforme Gregório, provoca uma maior degradação do solo, que é raso (de menos absorção e mais vulnerabilidade à erosão). Com o solo pobre, as plantas não conseguem reviver, mesmo que chova, dando início ao processo de desertificação. “Na seca, o solo sofre com a erosão eólica. Depois, com a erosão da chuva do ano seguinte, quando as gotas conseguem soltar as partículas do solo. Quando vêm outras chuvas, carregam essas partículas para riachos, rios e reservatórios, diminuindo a oferta de água com o assoreamento”, detalha o professor do IFCE.

 

Conforme Gregório, o escoamento da água em si não é ruim, pois é o que nos garante abastecimento. Mas esse fluxo deveria acontecer com o apoio de técnicas de manejo que garantissem a proteção do solo. “Tem a época da seca e depois, agosto e setembro, coincide com a preparação do campo. Muitos agricultores ainda usam a técnica de colocar fogo para queimar e preparar o terreno, deixando o solo exposto”, lembra Margareth. (Sara Oliveira)


 
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