Logo O POVO+
Como reconhecer e tratar a depressão nas crianças
Ciência e Saúde

Como reconhecer e tratar a depressão nas crianças

Assim como nos adultos, os episódios depressivos em crianças devem ser identificados e tratados. Isto requer a atenção da família e dos educadores, além do manejo de profissionais especializados
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

 

Thaís Brito

thaisbrito@opovo.com.br

O interesse por atividades que antes davam prazer acaba. As novas possibilidades de passeios, de esportes, de amizades, não empolgam. A criança não tem vontade de se envolver e escolhe caminhos para mais isolamento. Ou manifesta um desequilíbrio das emoções pela irritabilidade, em alterações do sono e da alimentação. As mudanças podem ser erroneamente interpretadas como “só uma fase” enquanto o quadro de depressão infantil se configura.

[SAIBAMAIS]

Diversos fatores desencadeiam a depressão nas crianças. Perda de um ente querido ou animal de estimação, ambiente familiar conflituoso, abuso sexual, ausência de atenção dos pais e até o excesso de compromissos e exigência excessiva pelo desempenho nas atividades. “A depressão na criança é a impossibilidade de mudança. Ela diz que não tem jeito, não tem energia pra mudar as situações”, explica Fábio Gomes de Matos, psiquiatra do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e professor da Faculdade de Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC).


Um transtorno que normalmente se desenvolve depois dos seis ou sete anos de idade. Pelas fases do desenvolvimento infantil propostas por Jean Piaget, é quando a criança entra no estágio operacional-concreto e começa a perceber que há situações irreversíveis, pontua Matos. Para saber lidar com as frustrações, ela precisará ter a infância respeitada, com oportunidades para brincar, com tempo e dedicação de pais e educadores, com o olhar atento de quem acompanha a realidade da criança e as mudanças de comportamento.

[QUOTE1]

A escola é também local onde as alterações da criança podem ser observadas. Há casos identificados a partir do boletim. Os sintomas cognitivos se mostram na dificuldade de concentração e memória, prejudicando o aprendizado e o desempenho escolar, aponta Valéria Barreto Novais, vice-presidente do Núcleo de Psiquiatria do Estado do Ceará (Nupec), vinculado à Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Além das notas, outros sinais na escola são da ausência em atividades em grupo e brincadeiras no intervalo das aulas.


Ainda segundo Valéria, o estigma que acompanha as doenças psiquiátricas forma uma barreira para o tratamento das crianças. Para ela, um cenário comum é ver que os pais entram em negação e tentam justificar o comportamento dos filhos de qualquer outra maneira. “Dizem que é fase, só uma reação passageira a algum acontecimento. A sociedade aceita que a criança tenha diabetes, cardiopatia, mas não reconhece doença psiquiátrica”, alerta.


No entanto, o tratamento é a forma mais adequada de lidar com o problema. Nas redes sociais e com o apoio de voluntários nos estados brasileiros, a campanha Janeiro Branco faz mobilização para conscientizar sobre a importância da saúde mental. O tema é “Quem cuida da mente cuida da vida”, alertando para que as pessoas saibam lidar com amigos e familiares que enfrentam transtornos depressivos. Incluindo todas as faixas etárias, a estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que 121 milhões de pessoas no mundo sofrem com a depressão.


Neste domingo, o caderno Ciência & Saúde aborda as características desta doença na infância, informando também alguma das consequências da ausência do tratamento para a criança. A rede de atenção e os cuidados necessários para a prevenção também estão incluídos nas próximas páginas. Boa leitura!

 

O que você achou desse conteúdo?